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Preguiças estão ameaçadas pela agropecuária na Mata Atlântica

Estudo aponta que há mais pastos que floresta nativa no habitat natural das preguiças-de-coleiras

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Preguiças estão ameaçadas pela agropecuária na Mata Atlântica
Foto: Governo do estado da Bahia / AGERBA

As preguiças-de-coleira-do-nordeste (Bradypus torquatus) e as preguiças-de-coleira-do-sudeste (Bradypus crinitus) , espécies endêmicas da Mata Atlântica, estão ameaçadas pela agropecuária. De acordo com um estudo publicado na revista internacional Mammal Review, o desmatamento no bioma, causado principalmente pelas mudanças de uso da terra pela pecuária, superou a área de floresta nativa habitada pelas espécies.

O estudo foi conduzido por pesquisadores do Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA), Instituto Tamanduá, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Universidade do Estado de Mato Grosso e Universidade de São Paulo. O levantamento analisou os impactos das mudanças de uso da terra às preguiças em um período de três gerações, de 1988 a 2020.

Os autores apontam que, atualmente, o habitat natural das preguiças corresponde a menos de 40% de uma área que era inicialmente coberta por mata. Essa diminuição pode é observada na faixa litorânea dos estados de Sergipe, Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro, assim como o nordeste de Minas Gerais. 

Além da agropecuária, a expansão urbana, a exploração madeireira e as queimadas também contribuem significativamente com a degradação das regiões de distribuição das duas espécies.

“Apesar de conseguirem conviver, até certo ponto, em espaços minimamente modificados, as grandes áreas de criação de gado que substituem a floresta interferem na ecologia e no comportamento das preguiças-de-coleiras, devido à sua alta dependência de florestas. Com isso, na busca de novas áreas florestais, muitas vezes são forçadas a cruzar longas áreas de pastagens ou outras áreas antropizadas, ficando expostas a predadores e gastando mais energia para buscar alimento e abrigo”, destaca a pesquisadora Paloma Santos do INMA.

Nos últimos 30 anos, as áreas florestais se recuperaram parcialmente, mas o desmatamento já superou essa regeneração. “As florestas tropicais, geralmente, levam quase um século para se restaurarem completamente”, ressalta a pesquisadora do INMA. Mesmo com a recuperação, é necessário avaliar se essas áreas regeneradas podem sustentar adequadamente as espécies. 

O estudo, portanto, enfatiza a urgência de ações de conservação para proteger as preguiças-de-coleira e seu habitat, como restauração florestal e adoção de práticas sustentáveis na agricultura.

Preguiça-de-coleira

As preguiças-de-coleira-do-nordeste e as preguiças-de-coleira-do-sudeste estão entre as cinco espécies de preguiças encontradas no Brasil. 

A espécie se destaca por sua pelagem grisalha e os característicos pelos pretos ao redor do pescoço, que lhes dá o nome. Pesando mais de 6 quilos e medindo cerca de 75 centímetros de comprimento, elas são as maiores representantes do gênero.

Comportamentalmente, as preguiças de coleira são conhecidas por sua lentidão, resultante de um baixo metabolismo e uma vida predominantemente arborícola. Passam a maior parte de suas vidas nas copas das árvores, onde se alimentam de folhas maduras e lianas específicas, demonstrando uma seletividade alimentar.

Como herbívoras estritas, a espécie depende da presença de árvores e da disponibilidade de folhas maduras para sobreviver. Seu sistema digestivo adaptado permite que extraiam o máximo de energia das folhas. 

No entanto, as preguiças de coleira são as únicas entre as espécies de preguiças classificada como Vulnerável (IUCN), tanto internacional quanto nacionalmente.