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Mata Atlântica perdeu 42% de sua biodiversidade desde 1985

Mata Atlântica perdeu 42% de sua biodiversidade desde 1985

Os impactos das ações humanas sobre as florestais tropicais já estão sendo sentidos. Na Mata Atlântica, uma das áreas mais ricas e ameaçadas do mundo, a degradação já comprometeu mais de 20% dos estoques de carbono e até 42% das árvores exclusivas do bioma, que não ocorrem em nenhum outro lugar do planeta.

Normalmente armazenado nas árvores, o estoque de carbono é perdido quando há degradação e desmatamento. Acredita-se que a destruição promovida pelo homem na Mata Atlântica, que já perdeu cerca de 88% de sua área original, pode ser um indicador da condição futura de outras florestas tropicais.

As conclusões são de estudo produzido por pesquisadores do Brasil, França e Holanda, publicado na revista científica Nature Communications. O levantamento compilou dados de 1.819 pesquisas e amostras de mais de um milhão de árvores, de 3.124 espécies.

Os resultados revelam que, devido à ação humana, os remanescentes florestais da Mata Atlântica perderam, entre 1985 e 2017, de 25 a 32% da biomassa e de 23 a 31% das espécies. Só a erosão da biomassa observada equivale à perda de 55 a 70 mil km² de floresta ou de US$ 2,3 bilhões a 2,6 bilhões em créditos de carbono.

Embora os impactos sobre os estoques de carbono sejam mais fáceis de quantificar, as maiores perdas são de biodiversidade. As plantas endêmicas estão sendo substituídas por espécies com distribuição mais ampla, que se adaptam a maior variedade de habitats, de modo que perderam quase metade de seus indivíduos nas últimas décadas.

De acordo com a pesquisa, os impactos na biodiversidade podem ser prolongados ao longo de décadas e a recuperação da diversidade de árvores ocorre em uma taxa muito mais lenta do que a biomassa florestal.

Impactos humanos e restauração

Ao contrário do que se pensa, os impactos humanos nas florestas tropicais, não se restringem ao desmatamento. Além da perda de árvores, a derrubada florestal reduz a disponibilidade de habitat para a fauna e aumenta a exposição da floresta ao fogo, exploração de recursos naturais, caça e invasões de plantas e animais exóticos.

Apesar de perdas também terem sido registradas dentro de áreas protegidas, elas ainda podem mitigar a erosão da biodiversidade e biomassa. Mas, sua eficácia depende do tipo de manejo e do nível de pressão exercida pelo homem no entorno das unidades de conservação, indicou o estudo, que também aponta alternativas para conter a degradação no bioma.

Para os autores da pesquisa a conservação do carbono tropical e da biodiversidade, depende não só da contenção do desmatamento ou da restauração de terras degradadas, mas também do combate ao declínio florestal tanto em áreas protegidas quanto em terras privadas.

“A mensagem otimista é que o combate à degradação florestal pode atrair bilhões de dólares em investimentos nos mercados de créditos de carbono. Portanto, os fragmentos degradados de Mata Atlântica não devem ser vistos como um fardo, mas como uma oportunidade de atrair investimentos”, destacou Renato Lima, um dos autores da pesquisa e pesquisador da Universidade de São Paulo (USP).