Operação militar na Amazônia gasta menos de 1% da verba prevista
A operação militar Verde Brasil 2, iniciada em maio pelo governo federal para combater as queimadas e o desmatamento ilegal na Amazônia, gastou apenas 0,7% de seu orçamento previsto até o início desse mês. Como resultado, a floresta registrou o maior número de focos de incêndio para o mês de junho dos últimos 13 anos e nova alta no desmatamento, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
Dos R$ 60 milhões inicialmente previstos para a operação, apenas R$ 2,323 milhões (3,8%) foram reservados para o pagamento de serviços executados e menos de 1%, o equivalente a R$ 454 mil, foram realmente pagos até o dia 3 de julho. As informações foram compiladas pela organização Contas Abertas, a pedido do Estadão.
Além do expressivo aporte inicial, o Ministério da Defesa diz ter mobilizado 3,8 mil profissionais e 110 viaturas para executar as ações de fiscalização quando divulgou a campanha. Como a verba prevista não foi recebida pela Defesa, que admitiu o atraso dos repasses, muitos militares tiveram suas agendas canceladas, enquanto deveriam estar em campo.
“Uma vez que os fundos específicos para a Operação Verde Brasil 2 ainda não foram disponibilizados pela área econômica, o Ministério da Defesa adiantou recursos orçamentários previstos específicos da rubrica da GLO (Garantia da Lei e da Ordem) para o pagamento de horas de voo iniciais da operação”, informou a Defesa.
Programada para durar um mês, a operação sob comando do vice-presidente Hamilton Mourão foi prorrogada até novembro, mesmo sem resultados expressivos. Para mascarar o insucesso da operação, o governo atribuiu a Verde Brasil 2 números de ações que não tiveram nenhum apoio militar e que ocorreram antes dos militares serem enviados à Amazônia, denunciou o Estadão.
Uma das falcatruas envolveu uma megaoperação do Ibama, realizada em abril, nas terras indígenas Apyterewa e Trincheira Bacajá, no Pará. Todos autos de infração lavrados, apreensões e maquinários destruídos foram colocados indevidamente na conta da Verde Brasil 2. O próprio Ministério da Defesa confirmou o ato, ao ser questionado sobre o assunto.
GLO
Por meio de decreto, o presidente Jair Bolsonaro instituiu a Garantia da Lei e da Ordem (GLO) e subordinou as ações do Ibama e do ICMBio na Amazônia às Forças Armadas. Desse modo, as operações de fiscalização passaram a ser geridas e planejadas pelos militares durante a vigência da GLO.
Para ambientalistas e servidores dos órgãos ambientais, a operação representou perda total da autonomia das equipes de fiscalização, sendo vista como medida de retaliação e controle.