Pesquisa aponta perda de ao menos 44% dos mamíferos da Mata Atlântica desde 1500
Desde a chegada dos portugueses ao Brasil, em 1500, a Mata Atlântica pode ter perdido 71% de sua fauna de mamíferos, transformando-a em uma floresta vazia. O alerta é de pesquisadores da Universidade de East Anglia, no Reino Unido, feito no último dia 25.
Os cientistas avaliaram informações de 105 estudos, a partir dos quais obtiveram 497 assembleias, ou seja, conjuntos de diferentes espécies de animais que habitam uma mesma área. Esses dados foram cruzados com a base da UICN (União Internacional para a Conservação da Natureza) de distribuição de espécies, possibilitando determinar as localizações que determinados animais habitam ou poderiam habitar.
A taxa de defaunação, ou seja, perda de fauna, identificada foi de 71% em um panorama pessimista. No cenário mais conservador, a perda ficou em 44%. “O cenário em que eu particularmente acredito é o de 71%. Mesmo se for 44% de perda é muito preocupante. Não documentamos nenhuma extinção para a Mata Atlântica como um todo, documentamos milhares de extinções locais”, afirmou Juliano Bogoni, pesquisador da USP.
A pesquisa aponta o desmatamento, fragmentação de floresta e caça como fatores que favorecem a perda de espécies. Segundo Bogoni, o tamanho e isolamento de fragmentos de Mata Atlântica – que atualmente conta com apenas 12% da cobertura original – são fatores com importante impacto na defaunação. Regiões muito pequenas e isoladas, mesmo que ainda tenham cobertura vegetal, podem não ser suficientes para garantir a sobrevivência de espécies, devido, por exemplo, à baixa variabilidade genética a longo prazo. E o que resta do bioma são pequenas manchas, com menos de 50 hectares, muitas vezes isoladas de outras áreas de floresta e próximas a grandes centros urbanos, ou seja, altamente perturbadas por atividades humanas.
Segundo Bogni, a meta é evitar que a floresta fique ainda mais vazia. As áreas mais conservadas são justamente aquelas legalmente protegidas. “Isso mostra que as políticas públicas de conservação de grandes fragmentos são o que atenua a defaunação. É só nesses locais que vamos encontrar, com certa segurança, os bichos mais ameaçados. E somente lá que talvez, a médio e longo prazo, eles consigam prosperar”, disse.
Com informações da Folha de São Paulo