Quatro milhões de animais silvestres são traficados por ano no Brasil
No Brasil, em média 4 milhões de animais silvestres são traficados por ano e 38 milhões são retirados ilegalmente da natureza. Os dados alarmantes foram compartilhados por Marcelo Coutinho Amarante, Diretor de Fiscalização de Recursos Faunísticos e Pesqueiros da Semad na última Terça Ambiental deste ano, ocorrida em 7 de novembro.
Segundo o Relatório Nacional sobre o Tráfico de Fauna Silvestre, a atividade movimenta de US$ 10 a 20 bilhões de dólares em todo o planeta, sendo o Brasil responsável por 5% a 15% desse montante. O tráfico de animais só fica atrás do tráfico de drogas e armas. Para o diretor, o crime é tão frequente por que o custo-benefício é vantajoso para o traficante. As multas determinadas pela legislação brasileira são bem menores que o valor comercial dos animais. No caso dos pássaros, o preço de algumas espécies chega a alcançar entre R$ 40 mil e R$ 60 mil, segundo Amarante. Quanto mais rara, maior seu valor.
A maior parte das capturas ocorre no Maranhão, Bahia, Ceará, Piauí e Mato Grosso. São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais são os maiores consumidores, respectivamente. Os criminosos fazem de tudo para despistar as autoridades, prendendo os animais em garrafas pet, sacolas plásticas, tubos de PVC e até mesmo garrafas térmicas. Outra imagem apresentada por Amarante mostra um homem com animais presos em meias finas amarradas em volta de sua cintura. Nem os filhotes escapam. A cada 10 animais traficados, apenas um chega vivo até o consumidor final.
Amarante comentou também sobre o caso Lóris, espécie de primata encontrada apenas na Ásia que faz sucesso entre os famosos. De pelo curto e sedoso e olhos grandes, ele se parece com um bichinho de pelúcia. Após capturá-lo na floresta, seus dentes são arrancados a sangue frio no intuito de evitar sua mordida venenosa. O processo pode matá-lo de infecção ou perda de sangue, e também impede que seja devolvido à natureza. A cantora Rihanna foi duramente criticada nas redes sociais após postar foto com um lóris.
Espécies exóticas invasoras são a segunda maior causa de extinção de espécies, atrás apenas da destruição de habitats. Um exemplo apresentado por Amarante é o mexilhão-dourado, que tem causado grandes transtornos a usinas hidrelétricas. Por sua grande capacidade de reprodução e dispersão, além de praticamente não ter predadores na fauna brasileira, o mexilhão se espalha com rapidez e consegue entupir sistemas de água, causando interrupções frequentes para limpeza.
O diretor participa ativamente das ações de fiscalização e o que não falta são casos de crueldade. Amarante já encontrou um cavalo amarrado em arame farpado e um jabuti preso em uma espécie de poço minúsculo construído com tijolos, cheio de lodo e com espaço apenas para uma poça d’água. Em outra ocasião, registrou um criatório irregular que mantinha pássaros presos em caixas de isopor ouvindo incessantemente a gravação de seu canto para “aprenderem”. Até um vereador já foi flagrado com três capivaras mortas e pássaros.
Além do tráfico, os ilícitos mais praticados são cativeiro irregular, maus tratos, portar ou guardar instrumentos para caça, transportar fauna silvestre sem autorização e caçar. A caça de animais silvestres é proibida no Brasil há 50 anos, mas o deputado federal Valdir Colatto quer revogar a lei. Para Amarante, o Projeto de Lei 6268/16 propõe “coisas absurdas”, como a possibilidade de caça dentro de unidades de conservação utilizando cachorros. Além de a atividade ser ilegal, Amarante lembrou o risco de introdução de doenças no ambiente natural, como leptospirose.