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Aquecimento dos oceanos está matando baleias

Aquecimento dos oceanos está matando baleias
Registro extraordinário de uma mãe com seu filhote em outubro deste ano em Sergipe / Crédito: divulgação Projeto Baleia Jubarte

Noventa e sete baleias jubarte encalharam no litoral brasileiro neste ano e apenas duas sobreviveram, segundo balanço do Projeto Baleia Jubarte. Os casos de 2017 já superam os 96 contabilizados em todo o ano de 2010, o mais grave nesse tipo de ocorrência desde o início da sistematização desses dados pelo projeto, em 2002. Até o momento, 12 cadáveres surgiram no Canadá e outros três nos Estados Unidos. As últimas estimativas de pesquisadores, antes das mortes, são de que há 458 espécimes no Atlântico Norte.

Investigações da NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration, em inglês) indicam que pelo menos metade das baleias morreram por colisão com navios. A outra metade pode estar sofrendo por causa do aquecimento dos mares. No Golfo do Maine, na Costa da América do Norte, estão sendo registrados os índices mais rápidos de elevação da temperatura do mar de todo o planeta. Essa variação de temperatura faz com que os animais se desloquem mais em busca de alimento. Como elas precisam nadar mais, os acidentes com navios são mais frequentes. Segundo especialistas, as baleias são capazes de percorrer um quarto de todo o caminho da Terra.

Amelia Gonzalez, em sua coluna no portal G1, lembrou a história desses bichos. Há cerca de 50 milhões de anos, as baleias eram mamíferos terrestres, com cascos. Passaram por diversas transformações até que os cascos viraram barbatanas e elas se tornaram criaturas do mar. Eram grandes, mas não enormes, conforme estudo publicado em maio deste ano na revista “Proceedings of the Royal Society B”. Quatro milhões de anos atrás, porém, começaram a ser vistas as gigantes espécies de Baleia Azul em diferentes oceanos pelo mundo afora.

Cientistas suspeitam que uma mudança no clima foi responsável pelo aumento do tamanho desses animais, porque os oceanos passaram a oferecer-lhes um tipo de alimento mais eficaz. As baleias já tinham condições anatômicas para receber alimentos que só começaram a ser produzidos pelos mares tempos depois. Mas elas precisavam ter também, além dos plânctons certos nas horas das refeições, bastante espaço para comer e, assim, não esbarrarem umas nas outras.

Durante grande parte do século XIX e início do século XX, os homens passaram a usar e abusar dessas magníficas criaturas, transformando as baleias em “petróleo do planeta”. “Seu óleo iluminou as ruas de Nova York, Londres e Rio de Janeiro; seu couro era usado em roupas e sapatos; seus ossos integravam eixos de carruagens e as barbatanas eram usadas em sombrinhas e espartilhos. Da margarina a óleo de motor, passando por ração animal e pela glicerina das bombas das duas guerras mundiais, tudo o que movia a civilização vinha dos gigantes do mar. Entre 1904 e 1979 morreram na Antártida 1.475.579 baleias”, escreveu o jornalista Claudio Ângelo, um dos coordenadores da ONG Observatório do Clima.

Só de baleias azuis foram mais de 340 mil perdas naquele período. O Japão ainda alega “razões científicas” para caçá-las às centenas e países que também consomem sua carne, como Noruega, fazem vista grossa ao fato de que, de científica, a caça japonesa às baleias não tem nada.

De uma população sobrevivente de aproximadamente 600 indivíduos na década de 1960, as jubartes cresceram para 3.400 em 2002 e, finalmente, 17 mil em 2015 (ano do último levantamento), o que permitiu que o animal deixasse a zona de risco de extinção.

As baleias podem estar prestes a passar por outra grande transformação, causada também por uma forte mudança no clima do planeta que habitam a tanto tempo. Vale lembrar a importância dessas criaturas do mar. Estudos apontam que, entre outras coisas, elas sequestram o carbono liberado pela industrialização excessiva e pelo abuso do combustível fóssil. Ou seja: elas limpam parte da sujeira que o homem espalha pela atmosfera. Além disso, suas fezes são um poderoso alimento para pequenos seres marítimos que, por sua vez, alimentam peixes diversos, muitos dos quais nos alimentam.


Com informações de Amelia Gonzalez