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Uso de glifosato é associado a 503 mortes infantis por ano

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Uso de glifosato é associado a 503 mortes infantis por ano

Estima-se que, por ano, cada brasileiro consuma até sete litros de agrotóxicos. Embora os efeitos dessas substâncias sobre a saúde humana ainda sejam incertos, um novo estudo sugere que o glifosato, pesticida mais vendido no país, gerou aumento de 5% na mortalidade infantil em municípios do Sul e Centro-Oeste do Brasil, que recebem águas de regiões produtoras de soja. O número representa 503 mortes a mais, por ano, devido ao uso do produto.

Para chegar aos resultados, pesquisadores da Universidade de Princeton, Fundação Getúlio Vargas (FGV) e Insper, contaram com análises de dados agrícolas, sanitários, geográficos e socioeconômicos das duas regiões que concentram a produção de soja no território nacional, onde o glifosato é amplamente utilizado.

O uso do produto ganhou força no Brasil no início dos anos 2000, quando o governo federal legalizou o plantio de soja geneticamente modificada. O cultivo da soja transgênica alavancou a produtividade da sojicultura brasileira, e também o consumo do pesticida.

De 2000 a 2010, a venda do agrotóxico passou de 40 mil toneladas para 128 mil, mais que o triplo. Em 2016, as vendas do produto superaram as toneladas vendidas dos outros sete pesticidas mais comercializados no Brasil. Hoje, o glifosato representa 62% do total de herbicidas utilizados em território nacional.

Transgênicos x agrotóxicos

O uso crescente do glifosato nos cultivos de soja, fez crescer a preocupação sobre as consequências do uso de herbicidas em sementes transgênicas. Estudos já detectaram o composto em fontes hídricas nos arredores e longe de regiões produtoras. Outras análises demonstram a capacidade do glifosato, mesmo em pequenas doses, de prejudicar a gestação ao atingir a placenta e o nascituro.

Com base nisso, os pesquisadores avaliaram se a disseminação do glifosato piorou as condições de saúde infantil em municípios que recebem água de rios onde há sojicultura. Eles concluíram que há uma piora nessas cidades, expressa por maiores probabilidades de baixo peso ao nascer, nascimentos prematuros e mortalidade infantil.

Pulverização aérea

Contestado no mundo todo pelos seus efeitos nocivos à saúde humana e ao meio ambiente, no Brasil, o glifosato ainda é disseminado por pulverização aérea. Recentemente, comunidades rurais no Maranhão foram atacadas por jatos do herbicida, despejado por aeronaves. Moradores relataram sintomas de intoxicação como coceiras, febre e manchas no corpo, informou a Repórter Brasil.

A pedido do Ministério Público Federal, a Justiça Federal reconheceu a gravidade do caso e o descumprimento parcial de decisão, por parte do estado do Maranhão, da Agência Estadual de Defesa Agropecuária do Maranhão e do Ministério da Agricultura. Os órgãos deveriam ter fiscalizado o uso do glifosato em todas as lavouras do estado e não apenas por amostragem, como foi feito, além de terem impedido seu lançamento aéreo, que é proibido.

De acordo com nova decisão judicial, os órgãos terão que tomar providências urgentes para impedir o uso de aeronaves na aplicação do glifosato, além de realizar o levantamento do total das lavouras que utilizam o herbicida no estado.