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Bicudos são encontrados em Minas após 80 anos desaparecidos

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Bicudos são encontrados em Minas após 80 anos desaparecidos
Crédito: Projeto Bicudos

Donos de um belíssimo canto, os bicudos (Sporophila maximiliani) estavam desaparecidos das matas mineiras há 80 anos. Tudo indicava que a espécie havia sido extinta, até que pesquisadores encontraram três indivíduos vivendo no leste do Estado.

O primeiro a identificar os bicudos em vida livre foi o morador José Paulo dos Santos, de 51 anos. Ele costumava ver a ave perto de brejos e lagos onde pescava, por isso encarou a busca pelo animal como “uma questão de honra”, disse.

Diante da possível descoberta, José contatou os pesquisadores do Waita, Instituto de Pesquisa e Conservação responsável pelo Projeto Bicudos. A equipe se deslocou para o local e identificou três indivíduos: um macho solitário e um casal formando ninho.

Os hábitos observados nos animais indicam que são nativos do local e não provenientes de projetos de reintrodução, quando animais em cativeiro são soltos na natureza. A diferença entre os indivíduos livres e os cativos pode ser vista pelo canto e pela forma como reagem a certos estímulos.

Segundo a presidente do Wica, Fernanda Sá, “os animais nem sequer respondem ao playback com a reprodução do canto da ave, um sinal de seu comportamento como ave nativa”.

Desde 2016, o Projeto Bicudos busca bicuda nativos em Minas Gerais com o apoio do Instituto Estadual de Florestas (IEF), Ibama e Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. A bióloga e coordenadora do programa de conservação do animal, Alice Lopes, afirmou ser uma alegria enorme poder vê-los vivendo em ambiente natural.

“Esse registro possibilitará diversos estudos comportamentais sobre habitat, alimentação e reprodução, que são praticamente inexistentes e serão fundamentais para subsidiar um futuro programa de reintrodução”, destacou Alice.

A meta inicial do programa foi realizar buscas pela espécie em vida livre e coletar informações sobre comportamento, ecologia, caracterização genética e sanitária das populações em liberdade. Paralelamente, foram realizados estudos técnicos-científicos em cativeiro autorizado para conhecer melhor o bicudo, a fim de subsidiar um programa de conservação e reintrodução da espécie em Minas Gerais.

O analista ambiental do Ibama em Minas, Daniel Vilela, frisou a importância do registro após 80 anos. “O bicudo sempre foi uma espécie naturalmente rara e sofreu muito com a captura e criação clandestina devido ao seu belo canto e valor comercial. Poucas pessoas acreditavam que este reencontro em Minas Gerais fosse possível. Este novo registro alimenta a esperança de repovoar o estado”.

Bicudo

Além de ser uma das principais vítimas do tráfico de animais, a espécie também sofre com a perda de seu habitat natural. Apesar da ampla distribuição é considerada rara e criticamente ameaçada de extinção no país.

O bicudo habita pastos alagados, veredas com arbustos, brejos, beiras de rios e lagos. Além do Brasil, ocorre da Nicarágua ao Panamá e em todos os demais países amazônicos, com exceção do Suriname.