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Medicina tradicional asiática ameaça populações de grandes felinos

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Medicina tradicional asiática ameaça populações de grandes felinos
Filhotes de tigres nascidos e mantidos em jaulas pequenas em uma fazenda no sul da China / Crédito: World Animal Protection

Ossos, sangue, órgãos e diversas partes do corpo de tigres são altamente visados por um cruel mercado que comercializa vinhos, pomadas e bálsamos com “efeitos milagrosos” para várias doenças, desde insônia e malária até meningite e impotência. Em expansão, o mercado da medicina asiática tradicional coloca também em risco leopardos, leões e onças. Estudo da organização World Animal Protection escancara uma realidade de exploração e crueldade a esses grandes felinos.

A pesquisa mostra que leões e tigres estão sendo mortos na natureza e também criados em cativeiro aos milhares, geralmente em condições incrivelmente cruéis, para ajudar a alimentar a demanda insaciável por medicamentos tradicionais. Em fazendas da China, antes de serem brutalmente abatidos, os tigres são mantidos em pequenas jaulas de aproximadamente 21 metros quadrados, em condições deploráveis, com acesso ao mínimo para sobreviver.

Já em fazendas na África do Sul, filhotes de leões e tigres nascem em um sistema de exploração. Reproduzidos em escala, é comum o nascimento de filhotes com deformidades, como ausência de patas, em função do cruzamento entre animais com algum parentesco – pais e irmãos, por exemplo. Alguns filhotes morrem ainda durante a gestação. Várias fêmeas são submetidas a gestações consecutivas, gerando de quatro a cinco ninhadas além do que aconteceria na natureza.

Os animais são explorados como entretenimento, permitindo que turistas passeiem, toquem e tirem fotos com eles. Quando já não servem mais para entreter, leões são encaminhados para fazendas de caça, onde são mortos e têm suas peles e cabeças removidas para servirem de troféus. Seus ossos também são vendidos para produção de supostos medicamentos (como “vinho de osso”), amuletos e acessórios, especialmente no sudeste da Ásia.

A onça-pintada não fazia parte da medicina tradicional asiática. Entretanto, com a redução de tigres, o mercado de dentes, ossos e pele do animal explodiu na América Latina. Os comerciantes chineses são especialmente ativos, com a China sendo agora o maior investidor estrangeiro em infraestrutura e indústrias extrativas da América Latina. Tais desenvolvimentos estão abrindo as últimas florestas intactas da região, facilitando a caça ilegal.

Números

A pesquisa aponta que, no Vietnã, quatro em cada cinco pessoas (89%) acreditam nos efeitos de produtos feitos de partes de corpos de tigres e leões, apesar de não haver comprovação científica. Dos consumidores desses produtos, 84% dão prioridade àqueles que têm origem em animais capturados diretamente da natureza em vez de criados em cativeiro. Na China, essa preferência é de 55%.

Apesar da tendência preocupante, há resultados promissores: 67% dos entrevistados vietnamitas se mostraram dispostos a consumir medicamentos sintéticos ou à base de plantas em substituição àqueles feitos de partes de grandes felinos.

O estudo apresenta um exemplo bem sucedido de mudança cultural: o consumo de sopa de barbatana de tubarão. A refeição era muito popular na China, pois simbolizava riqueza e sucesso. Contudo, sua popularidade estava levando espécies de tubarão à extinção. A pesca é cruel: as barbatanas são cortadas com os tubarões ainda vivos, que são jogados de volta ao mar, onde sofrem uma morte lenta e dolorosa.

Para mudar esse cenário, líderes comunitários, estudantes e celebridades se envolveram em uma campanha de alto nível para ressaltar a crueldade das práticas de colheita de barbatanas. Isso foi combinado com o governo chinês, que proibiu a refeição de banquetes oficiais. Como resultado, o consumo de sopa de barbatana de tubarão despencou.

A World Animal Protection ressalta que o mundo precisa de uma ação semelhante para proteger os grandes felinos. Para a organização, a medicina tradicional asiática é um fator-chave em seu contínuo declínio e a demanda só diminuirá se atitudes culturais mudarem.