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Índice de desmatamento na Amazônia em junho é o maior do ano

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Índice de desmatamento na Amazônia em junho é o maior do ano
Amazônia Legal perdeu 920 km² só em junho deste ano

Após o desmatamento na Amazônia bater recorde em maio deste ano, sendo aproximadamente 34% maior que o mesmo período de 2018, as altas taxas prevaleceram em junho. Só no período a Amazônia Legal perdeu 920,4 km², cerca de 90% a mais que o registrado em junho de 2018. Os dados foram divulgados no início deste mês pelo sistema Terra Brasilis, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

O índice de desmate é o segundo maior para o mês desde o início dos registros, em 2015, ficando atrás só de junho de 2016, quando a floresta perdeu 951 km². Fatores como incêndios florestais e exploração comercial não entram na contagem. Se fossem consideradas todas as categorias de perda florestal, o desmatamento na Amazônia chegaria a 1,7 mil km².

As estimativas ainda podem estar subestimadas, pois os números do Terra Brasilis não mapeiam todo o desmatamento do bioma. Fornecidos pelo Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), eles servem para informar os focos de desmate e orientar as equipes de fiscalização, ao contrário do MapBiomas, que limpa e confere as informações coletados durante todo o ano para realizar uma análise consolidada.

Para ambientalistas, os números tendem a aumentar ao longo da estação seca, pois além de ser época propícia para a ação dos madeireiros, as ações do Ibama, principal órgão fiscalizador, estão sendo enfraquecidas. Levantamento realizado pelo Observatório do Clima indicou que o número de multas aplicadas pela autarquia foi o menor em 11 anos. Com ação semelhante, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) não fez nenhuma ação fiscalizatória na Amazônia em abril.

Tendência

A previsão do cientista e membro do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), Paulo Artaxo, é que no ritmo atual de desmonte das políticas ambientais, a destruição da floresta possa atingir um limite irreversível. Em entrevista a BBC Brasil, o pesquisador disse que a pressão de outros países é o único modo de frear os retrocessos promovidos pelo novo governo.

Para ele, o desmonte tem sido promovido por meio de várias ações, incluindo a destruição de todo o sistema fiscalizatório. As decisões são justificadas pelo corte de gastos que, na visão do especialista, não atinge os setores industrial e agropecuário. Desde o início do mandato, o presidente Jair Bolsonaro excluiu, reduziu ou realocou em outros ministérios colegiados até então geridos pelo Ministério do Meio Ambiente.

“O Ibama tinha, por exemplo, um sistema chamado Prevfogo, de prevenção de queimadas, que tinha centenas de funcionários há um ano e hoje está reduzido a algumas dezenas de pessoas para cuidar do combate a queimadas na Amazônia”, citou.

Tais ações refletem, na visão do especialista, em prejuízos ambientais imensuráveis, como a destruição da floresta Amazônica, cujo desmatamento já alcançou 20% do bioma.

“Estimativas de cálculos do Carlos Nobre, do Thomas Lovejoy mostram que, se você desmatar 40% da floresta, basicamente o restante não tem condições de sustentar o funcionamento de um ecossistema de uma floresta tropical chuvosa. E aí todo o carbono que está armazenado naquela floresta vai para a atmosfera, agravando em muito e acelerando em muito as mudanças climáticas”, explicou.

Apesar do rumo que a política ambiental tem tomado no país, Artaxo acredita que é possível controlar o desmatamento de maneira simples, visto que há todas as ferramentas para isso. “O Brasil, se quiser zerar o desmatamento, pode fazer isso no ano que vem. Não falta nenhuma tecnologia para isso, basta vontade política”, concluiu.

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