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Reprodução in vitro pode recuperar recifes de corais degradados no Brasil

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Reprodução in vitro pode recuperar recifes de corais degradados no Brasil
Pólipos de coral-cérebro Mussismilia harttii liberando pacotes de gametas / Crédito: Leandro Santos/Coral Vivo

A reprodução in vitro pode ajudar a repovoar recifes de corais brasileiros degradados pelas mudanças climáticas, poluição e pesca predatória. Uma equipe do Projeto Coral Vivo coletou gametas (óvulos e espermatozoides) de duas espécies de coral-cérebro endêmicas da costa brasileira: Mussismilia hispida e Mussismilia harttii. Esta é a primeira vez que esse tipo de coleta é feita no país.

A biologia desses gametas ainda é pouco conhecida pelos pesquisadores. Eles sabem que os óvulos e espermatozoides são gerados no interior dos pólipos de coral. Cada pólipo é um animal hermafrodita, capaz de produzir gametas masculinos e femininos, que são liberados na forma de uma bola de muco, chamada “pacote”. A partir daí, não se tem certeza do que acontece. O objetivo do estudo é entender melhor a biologia reprodutiva dessas espécies e desenvolver um método de reprodução in vitro.

Para isso, os cientistas escolheram a dedo as datas para coletas. Ambas as espécies costumam desovar entre os meses de setembro e novembro, e sempre em períodos de lua nova, quando a maré atinge seus níveis mais baixos. As coletas ocorreram entre 3 e 10 de outubro na base do projeto em Arraial d’Ajuda, distrito de Porto Seguro. Quarenta colônias de cada espécie foram coletadas algumas semanas antes no Parque Marinho do Recife de Fora, a 10 quilômetros da costa, e colocados em tanques de água marinha.

Os pesquisadores coletaram os pacotes, separaram os gametas, fizeram experimentos com as células “frescas” e congelaram o restante para pesquisas posteriores. Nos primeiros ensaios descobriram que o espermatozoide do Mussismilia hispida pode viver até 18 horas na água do mar em temperatura ambiente. “Imagine a distância que essas células podem percorrer nesse tempo”, indagou Leandro Godoy, coordenador do projeto. Dependendo das marés e correntes, possivelmente as células navegam centenas de quilômetros. O sêmen de um peixe marinho, comparativamente, sobrevive cerca de 20 minutos.

Nessa primeira etapa o grupo trabalhará apenas com espermatozoides. Novos estudos focados nos óvulos serão realizados mais adiante. Em fevereiro do próximo ano o mesmo processo de coleta deverá ser feito com colônias de Mussismilia braziliensis, outra espécie endêmica de coral-cérebro do Brasil, que só desova nessa época do ano e é uma espécie símbolo da biodiversidade marinha brasileira.

Juntas, as três espécies de coral-cérebro nacionais (M. hispida, M. harttii e M. braziliensis) atuam como protagonistas na construção e manutenção dos ecossistemas recifais brasileiros. Apesar de não estarem oficialmente listadas como ameaçadas de extinção, a pressão sobre elas é grande. “De forma geral, o aumento de temperatura global, acidificação dos oceanos e doenças, são, atualmente, algumas das principais causas da rápida deterioração dos recifes de corais ao redor do mundo. No caso dos corais brasileiros, estes mesmos fatores já foram observados em diversas localidades, como no Banco dos Abrolhos e Parcel Manoel Luis, causando declínio na cobertura de corais”, afirmou Marcelo Kitahara, do Departamento de Ciências do Mar da Universidade Federal de São Paulo (DCMar-UNIFESP), especialista em corais.

Com informações do Estadão