A Amazônia queima e o setor produtivo fica calado
*Dalce Ricas
No mar de silêncio da iniciativa privada sobre a Amazônia, desponta o pronunciamento do Instituto Brasileiro de Árvores (Ibá), que congrega empresas produtoras de celulose, madeira e carvão produzidos através de plantios florestais. Foi até agora a única entidade patronal a se manifestar de forma clara. Em carta aberta, assinada por seu presidente Paulo Hartung, ex-governador do Espírito Santo, o Ibá afirma que é preciso discutir e propor soluções urgentes, sem levar o debate para o lado do partidarismo ou viés ideológico. E reitera sua posição contrária aos desmatamentos e incêndios ilegais que vem destruindo a Amazônia.
Para a instituição, o desflorestamento e queimadas “são irresponsáveis e não representam a mentalidade de um mundo moderno, conectado com a bioeconomia”. E que “chegamos em um momento em que é preciso ações integradas para garantir o desmatamento ilegal zero na Amazônia e no Brasil. Defender o meio ambiente e o futuro do Brasil é de responsabilidade de todos nós”, pontua a carta.
Assim é surpreendente e especulativo o silêncio de grandes instituições como Ibram, Fiesp, Fiemg, CNA, CNI, Anfavea e outras. Surpreendente porque a proteção da Amazônia é crucial para sobrevivência da fauna, proteção da água, regulação do clima no planeta, geração de chuvas e respeito aos povos indígenas, fatores éticos e de sobrevivência que, por princípio, interessa ou deveria interessar a todos. Especulativo quanto aos motivos do silêncio: concordam com a destruição? Medo de desagradar o poder? Acreditam que nada têm a ver com o assunto?
Até o presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Marcelo Vieira, afirmou, em entrevista à BBC, que “a área atualmente ocupada pela agropecuária é de 30% do território brasileiro apenas, mas com os ganhos de produtividade que vêm ocorrendo, nós temos condição de produzir mais que o dobro do que produzimos hoje na mesma área. Então, a agropecuária brasileira não precisa expandir”.
A ex-senadora e ex-ministra da agricultura de Dilma Roussef, Kátia Abreu, nomeada pelos ambientalistas como Rainha da Motosserra, surpreendeu o país ao dizer que “agricultores que comemoraram hoje vão chorar. Abri meus olhos e aprendi o quanto a Amazônia era importante para garantir as chuvas no sul e centro do Brasil”.
As imagens dos incêndios que destroem a floresta, queimam animais vivos, degradam os rios, paralisam aeroportos e atacam a saúde pública parecem estar abrindo muitos olhos para a importância da Amazônia e da necessidade de uma política ambiental séria e responsável no Brasil. As empresas não podem se fingir de cegas. É hora de mostrarem que não querem somente lucro.
*Dalce Ricas é superintendente da Amda