Opinião

A importância da água da Amazônia em números

Por Gustavo Nascimento*

A Amazônia, crucial para o equilíbrio climático global, tem enfrentado mais um desafio, a seca. Mesmo com a volta das chuvas, os rios da região seguem com um dos volumes mais baixos da sua história recente. Esse fenômeno, agravado pelo El Niño e crise climática, já teve impactos significativos na região, afetando os ecossistemas, a sociedade local – em particular os moradores das periferias das grandes cidades, os ribeirinhos, agricultores familiares e comunidades indígenas – e até a geração de energia nas controversas Usinas Hidrelétricas (UHEs).

Apesar de secas anteriores em 2005 e 2010, que reduziram os leitos de rios, lagos e igarapés, resultando na morte de peixes e botos devido ao aquecimento das águas e à diminuição de oxigênio, este ano tem sido marcado por manifestações ainda mais intensas desse fenômeno.

Os estados da Amazônia Legal são responsáveis por mais de 26% da geração de energia elétrica nacional. Mesmo assim, mais de 14% de sua população não tem acesso a essa energia gerada no Sistema Interligado Nacional (SIN), um sistema de produção e transmissão de energia elétrica, que liga as usinas aos consumidores ao redor do país.

Se, por um lado, a Amazônia configura um grande fornecedor de energia para o resto do país, por outro, internamente, parte da sua população fica desconectada. Essa distorção obriga cerca de 3 milhões de habitantes da região a serem abastecidos por usinas locais, não conectadas ao SIN, em sua maioria termelétricas abastecidas a óleo diesel, nos chamados Sistemas Isolados. Além disso, aproximadamente 1 milhão de pessoas vivem sem acesso perene à energia elétrica, contando com apenas algumas horas de energia por dia, por meio de geradores a diesel ou a gasolina.

Os números falam por si e são um alerta para a necessidade de atenção diante da considerável interferência humana na região, incluindo desmatamento, queimadas, construção de estradas, atividades mineradoras e agronegócio. Fatores que demandam uma resposta mais efetiva de toda a sociedade, das prefeituras, dos estados e do Governo Federal. É especialmente crucial agir diante de alertas prévios sobre esses eventos climáticos extremos, visando a proteção e preservação desse ecossistema vital.

Hidrografia da Amazônia em números

De acordo com o estudo “Fatos da Amazônia: Meio Ambiente e uso do solo”, do projeto Amazônia 2030, a bacia amazônica é a maior do mundo, abrange quase 7 milhões de km², incluindo a Pan-Amazônia. O Rio Amazonas, com seus 6.400 a 6.800 km de extensão, é o seu principal curso d’água, alimentado por cerca de 1.100 afluentes que se estendem pela Calha Sul (Purus, Madeira, Tapajós, Xingu etc.) e Calha Norte (Negro, Nhamundá, Trombetas, Jari etc.). Durante as cheias, esses rios podem inundar uma área de até 100.000 km², uma área maior do que estados como Santa Catarina, que tem aproximadamente 95 mil km² e Pernambuco, com 98 mil km².

Esses rios desempenham um papel vital na vida cotidiana dos habitantes da Amazônia, servindo como rotas de transporte e meio de escoamento de produtos regionais. Além disso, alguns afluentes do Rio Amazonas são fundamentais para a produção de energia hidrelétrica no Brasil, como é o caso das Usinas Hidrelétricas (UHEs) de Tucuruí (rio Tocantins), Belo Monte (rio Xingu), Jirau e Santo Antônio (rio Madeira), entre outras.

No entanto, dados recentes apontam para mudanças preocupantes nessa vasta rede hidrográfica. A superfície coberta por água na Amazônia Legal diminuiu de quase 130 mil km² em 1999 para 106,6 mil km² em 2020, representando uma redução de 17%.

Essas transformações evidenciam desafios crescentes enfrentados pela região, demandando uma atenção urgente e ação coordenada. Preservar essa hidrografia exuberante e vital não é apenas uma necessidade para a região, estabilidade ambiental global, mas também para o dia-a-dia de milhões de brasileiros.

*Gustavo Nascimento é preto, faixa preta, jornalista e coordenador de projetos em O Mundo que Queremos.

Fonte: Um só planeta