Energia eólica e fotovoltaica pode ser insustentável

*Ravi Mariano e Dalce Ricas

A transição da matriz energética é uma das principais diretrizes para diminuição da emissão de gases de efeito estufa. No Brasil, há uma crescente expansão de usinas solares e eólicas para produção de energia que pode realmente ser mais sustentável e limpa. Mas, da forma como estão sendo implantadas, a sustentabilidade é questionável. Pipocam denúncias de danos graves a comunidades humanas e ao meio ambiente em todo o país

Em Minas, no município de Capitão Eneas-MG, foram desmatados cerca de 200 hectares (há) de Mata Atlântica, parte em estágio médio de regeneração, de responsabilidade da empresa Rima, para instalação de usina eólica. A autorização dada pela Semad é lamentável, pois a área da usina é circundada por amplas áreas já desmatadas, sobre as quais o empreendimento poderia ter sido instalado, preservando o valioso remanescente do bioma.

O mesmo aconteceu no município de Arinos-MG, para instalação de usina solar. A Semad/IEF autorizou desmatamento de mais de 1.000 hectares de Cerrado, sendo que no entorno há áreas já desmatadas. Nesse caso, o responsável pela intervenção ambiental é a “Usina Solar Arinos 3 SPE S.A. e Outras”. E as ameaças não param por aqui. Corremos risco de perder área intocada e de grande valor ambiental na Serra do Espinhaço, pois foi concedida licença ambiental à empresa “Complexo de Geração de Energias Gameleiras S.A.” para instalação de imensa usina eólica.

O governo de Minas não perde oportunidade de se gabar por ter sido o primeiro estado da América Latina a aderir a iniciativa global Race to Zero, que visa neutralizar emissões de gases de efeito estufa no planeta até 2050. Porém, contraditoriamente, a Semad autoriza desmatamentos desnecessários para instalação de usinas solares e eólicas.

Por outro lado, no município de Janaúba-MG, começou a ser operado no ano passado, pela empresa Elera Renováveis, a maior usina solar do Brasil, chamada de “Complexo Solar de Janaúba”. Ela ocupa área de cerca de três mil hectares, e possui capacidade de gerar 1,2GWp, o equivalente ao abastecimento de uma cidade de mais de um milhão de residências, e foi implantada em área já com pouca cobertura de vegetação nativa, cujos remanescentes foram mantidos.

Não sabemos se foi a empresa que buscou área já impactada. Se positivo, é um bom exemplo de responsabilidade socioambiental e compromisso com o planeta. Independente disso, o exemplo deveria ser adotado pelo governo, por coerência com os compromissos anunciados com a Race to Zero. Importante destacar que a lei prevê estudo de alternativas locacionais para empreendimentos que tragam consigo impactos ambientais, o que parece estar sendo desconsiderado pela Semad/IEF.

Assim, considerando que no conceito de “sustentabilidade” está implícito evitar impactos ambientais desnecessários, a afirmativa de que qualquer usina eólica ou solar é por si sustentável não pode ser aceita.

*Ravi Mariano é Engenheiro Florestal e doutor em Ciências Florestais.

*Dalce Ricas é superintendente executiva da Amda.