Emissões têm maior alta em 19 anos no Brasil com crescimento do desmatamento

As emissões de gases de efeito estufa bateram novo recorde no Brasil, atingindo, no ano passado, a maior alta em quase duas décadas. O anúncio, do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima, acontece às vésperas da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-27), que será realizada no Egito.
No ano passado, o país emitiu 2,42 bilhões de toneladas brutas de CO2 equivalente, um aumento de 12,2% em relação a 2020. A alta é reflexo do desmatamento. Em 2021, as mudanças de uso da terra e florestas foram responsáveis por 49% do total emitido no país. Só o desmatamento na Amazônia respondeu por 77% das emissões do setor.
Impulsionadas pelo terceiro ano seguido de crescimento da área desmatada no governo Bolsonaro, as emissões por mudança de uso da terra tiveram crescimento de 18,5%. O ano de 2021 só fica atrás de 2003, quando o crescimento foi de 30% devido à explosão do desmatamento na Amazônia.
“A taxa de desmatamento em 2021 na Amazônia Legal foi de 13.038 km2, a maior desde 2006, quando o desmatamento estava em franco decréscimo desde os 27.772 km2 vistos em 2004. Isso demonstra que o aumento das emissões atualmente está refletindo esse retrocesso nos padrões de desmatamento”, frisou Bárbara Zimbres, pesquisadora do Ipam.
Segundo a análise, a destruição dos biomas brasileiros emitiu 1,19 bilhão de toneladas brutas no ano passado, contra 1 bilhão de toneladas em 2020. Também foi detectado aumento expressivo, de 65%, no carbono emitido pela derrubada da Mata Atlântica. No Cerrado, as emissões foram de 117 milhões de toneladas, um aumento de 4%.
Na visão de Tasso Azevedo, coordenador do SEEG, o balanço de dez anos do Sistema mostra que o Brasil teve uma década perdida para controlar a poluição climática. “Desde a regulamentação da Política Nacional sobre Mudança do Clima, em 2010, nós estamos patinando. Não apenas não conseguimos reduzir nossas emissões de maneira consistente, como as aumentamos nos últimos anos, e de forma expressiva”, ressaltou.
Para o especialista, o Brasil tem as ferramentas de política pública, a tecnologia e os recursos para mudar esse cenário, falta o governo e a sociedade entenderem que isso é fundamental para dar segurança à população e alavancar a economia.
Agropecuária e energia também registram alta
Junto com a mudança de uso da terra, registraram alta o setor de energia (12,2%), processos industriais e uso de produtos (8,2%) e agropecuária (3,8%). Somente o setor de energia emitiu 435 milhões de toneladas de CO2 equivalente em 2021 contra 387 milhões em 2020, atingindo a maior alta em 50 anos.
De acordo com o levantamento, dois fatores contribuíram com o boom de emissões do setor de energia. Um deles foi a crise hídrica de 2021, decorrente da pior estiagem no Centro-Sul do país em nove décadas, que forçou o acionamento de termelétricas. Paralelo a isso, o consumo de energia elétrica aumentou 4%.
Outro setor que registrou alta histórica foi a agropecuária. Foram 601 milhões de toneladas no ano passado, contra 579 milhões em 2020. Se fosse um país, o agro brasileiro seria o 16º maior emissor do planeta. A pecuária é a principal fonte, com 79,4% das emissões do setor.
O que mais influenciou as emissões da pecuária foi o crescimento de 3,1% do rebanho bovino. O aumento é seis vezes maior que a média dos últimos 18 anos. A última vez que o país viu um crescimento tão grande no número de cabeças de gado foi em 2004. Na agricultura, pesaram a alta no consumo de fertilizantes nitrogenados (13,8%) e o aumento de volume de calcário nas lavouras (20%).