Página inicialBlogSavanização de florestas tropicais ameaça sobrevivência de mamíferos na América do Sul
Notícias
Savanização de florestas tropicais ameaça sobrevivência de mamíferos na América do Sul
Florestas tropicais estão sendo convertidas em savanas devido à interação entre as mudanças climáticas e o desmatamento, responsáveis por intensificar regimes de fogo e secas. Em estudo publicado na revista Global Change Biology, pesquisadores brasileiros alertaram para os efeitos catastróficos da savanização sobre os mamíferos da América do Sul.
A pesquisa mostra como o fenômeno – que consiste na substituição gradativa de árvores de grande porte por gramíneas e árvores esparsas – afeta não só a composição da vegetação, mas também a ocorrência, distribuição e sobrevivência dos animais. Já anunciada por outros cientistas, como Carlos Nobre, a savanização pode ter um efeito muito mais nocivo à fauna do que se imaginava, alertou o novo estudo.
Com modelos computacionais, os cientistas da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e Universidade de Miami projetaram a dispersão de 349 espécies de mamíferos que vivem nas florestas tropicais e savanas em todo o continente sul-americano.
Os resultados sugerem que 285 animais, que dependem das matas fechadas para sobreviver, como os primatas, podem perder 50% de seu habitat até o fim do século, sobretudo no arco do desmatamento, fronteira agrícola entre o Cerrado e a Amazônia que mais sofre com a derruba florestal ilegal no Brasil.
O macaco-aranha e o macaco-barrigudo, são exemplos de primatas que serão diretamente impactados pela conversão de áreas florestais densas em zonas abertas, pois se alimentam, reproduzem, dormem e até se deslocam através das copas das árvores.
Na Amazônia, estima-se que 60 espécies possam ser “empurradas” pela savanização até sua área central, onde a pressão exercida pelo desmatamento e pelas mudanças climáticas é menor. O cenário não é favorável, pois estas espécies teriam que conviver e competir por recursos com outras que já vivem na região.
Espécies do Cerrado avançam fronteiras
Enquanto as espécies florestais buscam por outros habitats, animais que vivem em savanas, como o lobo-guará e tamanduá-bandeira, podem se beneficiar expandindo sua área de ocorrência em até 30%. Típicas do Cerrado, estas espécies podem ser cada vez mais comuns na Amazônia e, em menor escala, na Mata Atlântica, ao passo que a savanização avança.
Embora pareça promissora, a ideia de lobos-guarás e tamanduás migrando para outros biomas pode não dar certo, pois não há garantias que haverá alimento suficiente e que estabelecerão populações estáveis. Além disso, os cultivos agrícolas, a urbanização e o crescimento da malha rodoviária é uma grande barreira ao deslocamento dos animais.
“Existe uma série de dificuldades para que estas espécies consigam exercer esse potencial de expansão e cheguem nestas áreas adequadas. Se as populações ficam isoladas e o número de indivíduos é reduzido, elas perdem sua variabilidade genética e consequentemente a capacidade de adaptação às mudanças do ambiente, e as chances de extinção aumentam exponencialmente”, explicou o biólogo e um dos autores do estudo, Mathias Mistretta Pires, ao Mongabay.
Para os pesquisadores, mudanças nesse cenário só seriam possíveis com projetos de reflorestamento, implantação de corredores ecológicos e fortalecimento da proteção ambiental. “O desafio é criar condições para que a conectividade proporcionada pelos corredores ecológicos seja feita em um cenário amplo”, destacou a principal autora do artigo, Lilian Sales.
Com informações de Mongabay.