Pantanal: queimadas batem recorde dos últimos 22 anos
Em período de seca extrema, o Pantanal sofre os efeitos do pior índice de queimadas dos últimos 22 anos. No mês passado, o bioma contabilizou 1.684 focos de incêndio, contra os 494 focos registrados no mesmo período de 2019. O número é o maior para mês de julho desde o início dos registros do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em 1998.
Até então, o recorde de queimadas para julho pertencia a 2005, quando as planícies alagadas brasileiras queimaram 1.259 vezes. No ano passado, o bioma já havia sofrido com o maior número de incêndios dos últimos 16 anos, mas nada se compara às ocorrências registradas em 2020. Já nos três primeiros meses deste ano, houve aumento de aproximadamente 170% nas queimadas em comparação ao mesmo período de 2019.
“Segundo os dados de série histórica de focos de calor que o Inpe disponibiliza, desde 1998, nós nunca tivemos essa situação nos sete primeiros meses do ano”, afirmou Vinícius Freitas Silgueiro, engenheiro florestal e coordenador de inteligência territorial do Instituto Centro de Vida (ICV).
De janeiro a julho deste ano, 4.218 focos de incêndio foram contabilizados em todo o Pantanal. Em 2019, nos primeiros sete meses foram 1.475 registros, de acordo com o Inpe. Análise do Prevfogo indicou que de janeiro de 2020 até início de agosto, o Pantanal do Mato Grosso do Sul, que abrange 65% da parte brasileira do bioma, perdeu 1.100.000 hectares para o fogo.
Em comparação aos outros biomas brasileiros, o Pantanal foi o mais afetado pelas chamas em julho e o que apresentou maior alta em relação ao ano passado. Ambientalistas acreditam que o Pantanal vive sua maior tragédia ambiental das últimas décadas.
A redução de 50% do volume de chuvas esperado para a estação úmida tem sido apontada como uma das causas mais prováveis para o fenômeno. O tempo seco favorece a propagação do fogo, que pode iniciar com fogueiras e até com a queima de pastagens.
De acordo com Vinícius, metade das queimadas ocorreu em imóveis rurais privados que têm o Cadastro Ambiental Rural (CAR). “São imóveis que têm, majoritariamente, o seu uso agropecuário. E aí está a relação com a causa dos incêndios”, destacou.
Para o engenheiro florestal, os grandes incêndios têm início nas pequenas queimas em propriedades rurais, visto que o fogo ainda é muito utilizado pela pecuária para renovar pastagens.