Pesca fantasma impacta 25 milhões de animais marinhos por ano no Brasil
Em um ano, 25 milhões de animais marinhos do Brasil foram impactados pela pesca fantasma, caracterizada pela perda ou descarte nos oceanos de equipamentos de pesca, como redes de emalhar e de arrasto, varas, linhas, anzóis, espinhéis, entre outros. Isso significa que, por dia, pelo menos 69 mil bichos sofrem ferimentos, mutilações, ficam presos ou são mortos pelos petrechos. Os dados são do estudo Maré Fantasma, conduzido pela organização Proteção Animal Mundial. Apesar da grande extensão da costa brasileira, existem poucas pesquisas dedicadas à pesca fantasma e, por isso, a organização trabalhou com estimativas.
A rede utilizada na pesca artesanal e industrial foi apontada pelo estudo como a maior vilã. Considerando o volume produzido e importado da rede e uma taxa global de descarte ou perda, os pesquisadores estimam que, no Brasil, aproximadamente 580 kg de redes são perdidas diariamente. A nível global, são pelo menos 640 mil toneladas de petrechos de pesca abandonados, perdidos ou descartados no oceano a cada ano.
“O animal que vive livre não deveria interagir com os petrechos. Toda vez que se encontram, de alguma forma, há um impacto na fauna marinha”, disse Maurício Forlani, gerente de Pesquisa da instituição. Na maioria dos casos, a pesca fantasma provoca uma morte lenta e dolorosa por afogamento, sufocamento ou estrangulamento, ou causa lacerações, infecções e danos que interferem no comportamento e na capacidade dos animais de evitar predadores.
As vítimas mais frequentes são peixes, crustáceos e megafauna marinha, como tartarugas, leões-marinhos, focas, golfinhos, baleias e outros. De acordo com a pesquisa, 45% de todos os mamíferos marinhos que constam na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional para Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN) sofrem impacto causado por petrechos de pesca. Estima-se que 5 a 30% do declínio populacional de algumas espécies tem relação com a pesca fantasma.
A organização ressalta ainda que os petrechos também são extremamente prejudiciais para os habitats marinhos, visto que, mesmo depois de ficarem inativos pela degradação, os materiais continuam liberando microplásticos e componentes químicos, contaminando a água e organismos aquáticos.
Amazônia
A pesca fantasma também ameaça os animais da Amazônia. O estudo aponta que a intensificação do uso de redes de emalhe já é o fator de maior pressão para as duas espécies de boto da região: o boto-cor-de-rosa (Inia geoffrensis) e o tucuxi (Sotalia fluviatilis), resultando em redução drástica de suas populações.