Ariranhas voltam a povoar rios da Amazônia
Vítimas da caça comercial, as ariranhas (Pteronura brasiliensis) quase foram extintas da bacia amazônica no século XX. No entanto, cerca de 30 anos após a proibição da caça de animais silvestres no Brasil, a população da espécie voltou a crescer no Alto Rio Negro, região aonde chegou a ser considerada extinta. A constatação é de estudo publicado em agosto na revista científica Biological Conservation.
Liderado por Natália Pimenta, bióloga e pesquisadora do Instituto Socioambiental (ISA), a pesquisa foi realizada em parceira com lideranças da comunidade indígena Baniwa, localizada próxima ao local onde o mamífero foi avistado novamente, especificamente no rio Içana (noroeste do Amazonas).
Ela utilizou dados históricos, amostragens ecológicas e a memória dos índios para reconstruir a ocupação das ariranhas, desde sua origem até os dias atuais. Os números obtidos mostraram que apenas dez anos foram suficientes para levar as populações de ariranhas do rio Negro ao colapso.
O estudo mostra como os igarapés, rios e lagos do rio Içana, de difícil acesso aos caçadores, serviram de refúgio para as populações remanescentes. Em suma, os animais permaneceram resguardados nas cabeceiras das nascentes, de modo que se locomoveram para as áreas de onde haviam sido extintos após a caça diminuir.
Caça
Pesquisas anteriores indicaram que, entre 1904 e 1969, pelo menos 23 milhões de animais foram abatidos na Amazônia Ocidental para obtenção de peles. Desse montante, estima-se que 390 mil sejam ariranhas. Uma única pele de lontra, no final da década de 1960, poderia ser vendia por 175 dólares.
A demanda é atribuída, principalmente, aos mercados europeu e norte-americano. Os compradores estrangeiros pagavam altas quantias pela pele dos animais, principalmente se fossem indivíduos do rio Negro, pois ao permanecer em constante contato com as águas pretas, as peles ganhavam uma coloração diferenciada.
Na época, as peles eram tão valorizadas que os próprios índios caçavam os animais para trocá-los por objetos de valor. Outras espécies também eram cobiçadas, mas o levantamento destaca que a ariranha foi a mais impactada pela caça, reduzindo a área de distribuição original da espécie.
Antes o animal ocorria em quase todos os rios tropicais e subtropicais do continente. Mas fatores como caça e degradação dos ambientes naturais fizeram com que as populações da espécie sofressem considerável declínio.
Com informações de Instituto Socioambiental (ISA)