Humanidade está levando planeta ao limite
A atividade humana está levando os sistemas naturais do planeta que sustentam a vida na Terra até o limite, com impactos severos aos ecossistemas e à vida selvagem. O alerta é do Fundo Mundial para a Natureza (WWF) no Relatório Planeta Vivo 2018. A análise foi feita por 50 pesquisadores em todo o mundo com base em pesquisas de 19 organizações. O relatório é divulgado a cada dois anos.
Desde 1970 a WWF monitora 16.704 populações de 4 mil espécies, utilizando câmeras, análise de pegadas, programas de investigação e ciências participativas. Um dos indicadores mostra o crescimento alarmante da quantidade de plástico nos oceanos e como ele impacta a vida de várias espécies, entre elas as aves marinhas. Na década de 1960, apenas 5% delas tinham fragmentos de plástico no estômago. Hoje, o índice é de 90%.
Quando o assunto é desmatamento, o Brasil é destaque no relatório. O avanço da agricultura e pecuária devastaram 20% da Amazônia e 50% do Cerrado. Por ano, uma área equivalente a 1,4 milhão de campos de futebol de área verde desaparecem do mapa por causa do desmatamento. Já as áreas de pastagens abandonadas em todo o país por quem cria gado equivalem a duas vezes o estado de São Paulo, ou seja, 50 milhões de hectares, segundo o estudo.
“Se chegarmos a 25% do desmatamento da Amazônia – e já estamos em 20% – a gente já vai chegar ao chamado ponto sem retorno, a gente não vai conseguir recuperar o equilíbrio da floresta amazônica. Estamos perto deste limite”, disse Gabriela Yamaguchi, diretora de engajamento da WWF Brasil. Em nível mundial, apenas 25% dos solos estão livres da marca do homem. Em 2050, este índice cairá para apenas 10%, segundo pesquisadores.
Fauna ameaçada
A perda habitat, causada pela agricultura intensiva, mineração e urbanização, coloca diversas espécies em risco de extinção. O estudo aponta declínio de 60% nas populações de vertebrados em todo o mundo – mamíferos, peixes, aves, répteis e anfíbios. Nas populações de água doce, o declínio registrado é de 83%. No caso dos mamíferos, a redução total foi de 22%.
O levantamento cita animais brasileiros entre os ameaçados em função da perda de ambiente natural. Na lista estão a jandaia-amarela (Aratinga solstitialis), tatu-bola (Tolipeutes tricinctus), uacari (Cacajao hosomi), boto (Inia geoffrensis) e o muriqui-do sul (Brachyteles aracnoides). Um dos exemplos mais críticos apresentados no relatório é a população de elefantes na Tanzânia, que teve declínio de 86% desde 1970.
De acordo com a WWF, a taxa de extinção das espécies hoje é de 100 a 1.000 vezes maior do que era antes de as atividades humanas começarem a alterar a biologia e a química do planeta. Para se recuperar sozinha dos graves danos causados pela humanidade, a natureza precisaria de 6 milhões de anos.
Planeta
A organização emitiu alerta vermelho para a degradação do solo e ressaltou que está perto de fazer o mesmo em relação à acidificação das reservas de água doce e oceanos.
Segundo o relatório, três quartos do planeta já foram impactados pela ação humana. Estima-se que em 2050 apenas 10% da Terra esteja livre da interferência humana. Para a WWF, a humanidade ultrapassou os limites de segurança em relação às mudanças climáticas e níveis de interferência no sistema terrestre. Integridade da biosfera e fluxos biogeoquímicos de fósforo e nitrogênio também já sofreram interferências tidas como irreversíveis – sobretudo por conta do uso de fertilizantes na agricultura e do manejo da pecuária intensiva. A pegada ecológica do homem, conclui o relatório, está hoje três vezes mais degradante do que em 1970.
“Somos a primeira geração que tem uma visão clara do valor da natureza e do nosso impacto nela. Poderemos também ser a última capaz de inverter esta tendência”, advertiu a WWF. Para a organização, é preciso uma ação consistente antes de 2020, porque, ao contrário, “uma porta sem precedentes se fechará rapidamente”.