América Latina lidera perda de espécies vertebradas
Em sua 14ª edição, o Relatório Planeta Vivo mostra as ameaças enfrentadas por espécies de vertebrados em todo o mundo. A análise apontou queda de 69% em quase 32 mil populações de mamíferos, aves, peixes, répteis e anfíbios monitoradas desde 1970. As maiores perdas estão concentradas na América Latina, onde o declínio das espécies selvagens chegou a 94%.
O relatório divulgado pelo WWF Internacional em outubro deste ano, coloca a degradação e perda de habitat, exploração de recursos naturais, introdução de espécies invasoras, poluição, mudanças climáticas e doenças como os principais fatores de perda de biodiversidade.
As regiões tropicais são as mais afetadas, enquanto as espécies de água doce detêm o maior declínio global (83%). Segundo o levantamento, peixes migratórios de água doce sofreram declínio de 76% entre 1970 e 2016 por causa da perda de habitat, ocasionada principalmente por barreiras em rotas migratórias.
“Apenas 37% dos rios com mais de 1.000 km permanecem fluindo livremente em toda a sua extensão. Quando algumas espécies de peixes migram por grandes distâncias ao longo desses corredores migratórios, a presença de barragens e reservatórios representa uma ameaça à sua sobrevivência”, indicou a análise.
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Espécies em perigo
O boto-cor-de-rosa (Inia geoffrensis), o maior golfinho de água doce, foi uma das espécies que mais diminuíram nas últimas décadas. A caça furtiva é uma das principais ameaças ao boto, junto da contaminação por mercúrio e captura incidental em redes de pesca. A recuperação das populações torna-se ainda mais difícil devido à sua reprodução lenta.
Assim como o boto, há outras espécies em estado crítico de ameaça, como o gorila-da-planície-oriental, que sofreu declínio populacional de 80% entre 1994 e 2019 no Parque Nacional Kahuzi-Biega, no Congo. Já com o leão-marinho-australiano, a queda foi de 64% entre 1977 e 2019.
“Estamos enfrentando uma dupla emergência global provocada pelas ações humanas: a das mudanças climáticas e da perda de biodiversidade, ameaçando o bem-estar das gerações atuais e futuras”, afirmou Marco Lambertini, Diretor Geral do WWF Internacional.
Perda de biodiversidade por continentes
- Na África, a perda de biodiversidade chegou a 66%. A África do Sul, ao lado das regiões polares e da costa leste da Austrália se mostraram a mais propensas a sofrerem com as mudanças, sobretudo as populações de aves.
- Na Europa e Ásia Central, o índice foi de 18%. É o menor declínio regional registrado, considerando que muitas espécies já estavam em estado de esgotamento quando os dados começaram a ser levantados.
- Na América do Norte, a perda de biodiversidade também foi menor em comparação aos outros continentes, atingindo cerca de 20%.
- Ásia e Pacífico apresentaram declínio elevado de 55%, o terceiro maior.
Como resolver a questão?
Segundo o levantamento, a pressão que a humanidade exerce sobre o planeta leva a uma escalada da crise ambiental que, por sua vez, mina a capacidade da natureza de prestar serviços cruciais, incluindo a mitigação e adaptação às mudanças climáticas. Os autores do estudo ressaltam que não há uma única e simples solução, mas existem caminhos para isso.
Uma das formas é aumentar os esforços de conservação e restauração, além de mudar as formas de consumo, reduzindo o desperdício e optando por estilos de vida mais sustentáveis.
“É necessário um objetivo global de reverter a perda de biodiversidade para garantir um mundo com natureza positiva até 2030, se quisermos mudar o rumo acerca do declínio da natureza e proteger o mundo natural para as gerações atuais e futuras. Essa deve ser a nossa estrela orientadora, da mesma forma que a meta de limitar o aquecimento global a 2°C, de preferência a 1,5°C, orienta os nossos esforços em matéria de clima”, indicou o levantamento.
Sobre o relatório
O Relatório Planeta Vivo é produzido a cada dois anos pelo WWF desde 1998. A edição deste ano inclui o maior conjunto de dados até agora, com grande contribuição de espécies brasileiras: no total, foram adicionadas 838 novas espécies (575 das quais são do Brasil) e pouco mais de 11.000 novas populações em relação ao relatório anterior, de 2020.