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Águas barrentas em Alter do Chão são causadas por garimpo ilegal, revela análise

Águas barrentas em Alter do Chão são causadas por garimpo ilegal, revela análise
Alter do Chão em janeiro de 2022./ Crédito: Erik Jennings Simões

As imagens que circulam nas redes sociais mostrando as águas do rio Tapajós tomadas por barro têm chamado a atenção de moradores, turistas e pesquisadores. Conhecida internacionalmente como “Caribe da Amazônia” devido às águas cristalinas, a vila de Alter do Chão, no Pará, foi tomada por uma água turva e barrenta. Segundo análise do projeto MapBiomas, feita a partir de imagens de satélite de alta resolução, o fenômeno está ligado ao avanço do garimpo ilegal.

Os pesquisadores explicam que, embora o fenômeno seja comum, o aumento de sua intensidade e duração acendem um alerta. Além dos sedimentos do rio Amazonas que adentram o Tapajós na época de cheia, a exploração garimpeira no trecho entre Jacareacanga e Santarém contribui bastante com a turbidez.

O garimpo ilegal na Amazônia, tanto terrestre quanto em rios (balsas), cresce em taxas alarmantes, principalmente na bacia do rio Tapajós, onde a atividade triplicou na última década. Dados do MapBiomas indicam que a exploração garimpeira avança sobre áreas protegidas, principalmente na floresta amazônica, que compreende 93,7% de todo o garimpo existente no país.

De 2010 a 2020, a área ocupada por garimpos em territórios indígenas e unidades de conservação cresceu 495% e 301%, respectivamente. Os territórios Kayapó, Munduruku e Yanomani são os mais afetados.

Rastro de destruição

A análise MapBiomas aponta que o transporte de sedimentos pelos rios e lagos da Amazônia é um dos principais impactos do garimpo, que desmata e escava o solo ou draga o fundo dos rios para obter ouro. Esta adição de sedimentos altera as características físico-químicas da água e, consequentemente, a cor de rios e lagos.

O garimpo nas margens desmata, tornando o solo passível de ser arrastado pela chuva. Já o garimpo dentro do rio, por meio de dragas, revolve o solo subterrâneo do rio, colocando os sedimentos na superfície. Em ambos os casos, a atividade pode produzir essa coloração barrenta, que é observada em Alter do Chão.

“É possível ver claramente a pluma de sedimentos descendo dos afluentes tomados pelo garimpo avançando Tapajós adentro. Na altura da cidade de Itaituba, capital brasileira do ouro ilegal, o outrora chamado ‘rio azul’ fica opaco, e essa turbidez avança até a foz”, explicaram os pesquisadores.

Contaminação

Especialistas alertam que além dos sedimentos do garimpo ilegal, que sujam as águas da bacia do Tapajós, a outro problema causado pela atividade: a poluição por mercúrio. A substância, comumente usada pelos garimpeiros para ajudar na aglutinação do ouro, é tóxica e pode causar problemas neurológicos.

O mercúrio polui as águas e infecta os peixes, uma das principais fontes alimentícias dos moradores da região. Um estudo coordenado por Heloísa Meneses, professora e pesquisadora da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), revelou que 80% dos moradores de Santarém, cidade próxima à Alter do Chão, tinham no organismo índices de mercúrio superiores ao que a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda.

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