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Sete aves da Mata Atlântica foram extintas e nove estão criticamente ameaçadas, aponta pesquisa
O Brasil é o segundo país do mundo em número de aves globalmente ameaçadas, com 166 espécies em perigo. Metade delas estão na Mata Atlântica, bioma que possui apenas 12% de sua cobertura original. Nova análise revela que sete aves foram provavelmente extintas no bioma nas últimas décadas e outras nove estão criticamente ameaçadas, podendo desaparecer se nada for feito.
“Usamos informações recentemente atualizadas da Lista Vermelha Global, complementada pela Lista Vermelha Nacional para rever a afirmação de que não houve extinções documentadas de aves na Mata Atlântica”, explicaram os autores do artigo, Pedro Develey, da SAVE Brasil, e Benjamin Phalan, do Centro para Conservação de Aves da Mata Atlântica, do Instituto Claravis.
Os achados da pesquisa indicam que o bioma apresenta alto grau de endemismo, com 210 aves que não existem em nenhum outro local do mundo, o que torna as espécies ainda mais vulneráveis à perda de habitat. A previsão é de que pelo menos 80 destas aves sejam extintas no futuro.
Na estreita faixa de florestas litorâneas que abrange parte dos estados do Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas, conhecida como Centro de Endemismo de Pernambuco, está grande parte das aves extintas na Mata Atlântica nas últimas décadas.
São elas: limpa-folha-do-nordeste (Philydor novaesi), caburé-de-pernambuco (Glaucidium mooreorum), gritador-do-nordeste (Cichlocolaptes mazarbarnettii) e mutum-do-nordeste (Mitu mitu), que não possui mais indivíduos na natureza, apenas em cativeiro.
As outras três espécies possivelmente extintas na parte brasileira do bioma são: arara-azul-pequena (Anodorhynchus glaucus), pararu-espelho (Paraclaravis geoffroyi) e tietê-de-coroa (Calyptura cristata), cujo último registro confirmado ocorreu há 25 anos.
Criticamente em perigo
Entre as 15 espécies criticamente ameaçadas restantes com registros recentes, nove são encontradas na Mata Atlântica e oito são endêmicas, isto é, só existem no bioma. A maioria concentra-se no Centro de Endemismo de Pernambuco.
Saíra-apunhalada, crejoá e soldadinho-d0-araípe estão entre as aves em estado crítico. Expedições encontraram apenas 11 indivíduos da primeira espécie na natureza e é improvável que a população global seja muito maior. Já o crejoá desapareceu até mesmo dos maiores blocos florestais remanescentes no Espírito Santo, enquanto a população do soldadinho-do-araípe diminuiu 22% entre 2013 e 2018.
Em situação ainda pior está o entufado-baiano (Merulaxis stresemanni), que apenas um indivíduo foi visto na natureza. Choquinha-do-alagoas (Myrmotherula snowi), bicudinho-do-brejo-paulista (Formicivora paludicola), zidedê-do-nordeste (Terenura sicki) e cara-pintada (Phylloscartes ceciliae) também estão na lista das espécies endêmicas da Mata Atlântica classificadas como criticamente ameaçadas de extinção.
Causa das extinções
A perda de habitat foi apontada como a causa principal das extinções, embora as espécies também tenham sofrido com caça, tráfico de animais, exploração madeireira e aumento da frequência e intensidade de incêndios florestais.
“No Nordeste, uma importante causa do desmatamento foi um programa iniciado em 1975 para promover a produção de etanol de cana-de-açúcar. Desde então, a cana-de-açúcar e as pastagens substituíram a maior parte das florestas do Centro de Endemismo de Pernambuco”, explicaram os autores do estudo.
Embora a situação seja irreversível para algumas espécies, os pesquisadores mostram que há casos bem-sucedidos, em que aves criticamente ameaçadas já tiveram seu grau de ameaça rebaixado, como o mutum-de-bico-vermelho, a arara-azul-de-lear e a tiriba-de-peito-cinza.
“Já é tarde demais para o limpa-folha-do-nordeste e o gritador-do-nordeste, mas outros casos são mais esperançosos. Com dedicação, colaboração, recursos suficientes e foco em soluções baseadas em evidências, as espécies podem ser salvas da beira da extinção”, concluem.