Governo omite dados e incentiva uso de agrotóxicos no Brasil
O Brasil continua quebrando recordes quando o assunto é liberação e incentivo ao uso de agrotóxicos. Somente neste ano, mais de 400 substâncias foram autorizadas pelo governo federal. Apesar do uso irrestrito de produtos químicos na agricultura, o poder público tem omitido informações importantes sobre a comercialização de agrotóxicos.
Dados levantados pela Repórter Brasil e Agência Pública, indicaram que 72% dos pesticidas liberados no país em 2018, não tiveram seu volume de venda divulgados. Quase a metade, 46%, dos químicos cujos dados são “desconhecidos” estão no prato dos brasileiros.
Em vez de informar quais substâncias são utilizadas para que a população avalie suas consequências para a saúde pública e o meio ambiente, o governo prefere encobrir o rastro do veneno. Em resposta à reportagem, o Ibama afirmou que as informações não são divulgadas para manter o sigilo comercial das fabricantes, respaldando-se nas Leis 9.279/96 e 10.603/02.
A justificativa do sigilo beneficia diretamente multinacionais, como Bayer, Syngenta e Basf, que possuem registro de 52% dos 56 agrotóxicos encontrados nos alimentos sem dados divulgados.
Incentivo ao uso de agrotóxicos
A omissão das informações sobre o comércio de agrotóxicos não é a única decisão que coloca o interesse privado à frente da saúde pública. O governo federal concede inúmeros incentivos fiscais ao setor agroquímico, fazendo crescer o uso destas substâncias.
Alguns pesticidas possuem isenção de 100% do IPI – Imposto sobre Produtos Industrializados, graças a um decreto (nº 7.660), de 2011. Esse e outros benefícios, fazem com que gigantes do setor de agrotóxicos economizem R$10 bilhões por ano com isenções e reduções de impostos, revelou estudo da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco).
Especialistas destacam que os incentivos ignoram as inúmeras pesquisas científicas que alertam para o malefício dos pesticidas, tendo como único objetivo privilegiar os grandes produtores. O Brasil é o país que mais consome agrotóxicos no mundo e sua legislação é uma das mais flexíveis quanto ao uso de pesticidas.
Segundo a ONU, cinco dos dez agrotóxicos mais vendidos no Brasil não são autorizados em diversos países. No ano passado, o número de químicos liberados pelo governo Bolsonaro foi o maior dos últimos 10 anos.
Dados do Ministério da Economia também mostraram elevação na importação desses produtos, que atingiu seu ápice no ano passado. Estima-se que em 2019, quase 335 mil toneladas de inseticidas, herbicidas e fungicidas chegaram ao país, um crescimento de 16% em relação ao ano anterior.
Alimentos contaminados
O último relatório do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos, da Anvisa, indicou quais alimentos são os mais contaminados por agrotóxicos. Foram analisados quatorze vegetais (abacaxi, alface, arroz, alho, batata-doce, beterraba, cenoura, chuchu, goiaba, laranja, manga, pimentão, tomate e uva), que correspondem a 30% da dieta dos brasileiros.
O pimentão verde foi campeão no número de agrotóxicos. A cada dez unidades, oito continham agrotóxicos proibidos ou em doses acima do permitido. No segundo lugar ficou a goiaba, com 42% das amostras contaminadas com tóxicos proibidos ou em quantidades além do liberado.
Em terceiro e quarto lugares ficaram a cenoura e o tomate, com 39% e 35% das amostras irregulares. De modo geral, 23% dos alimentos testados possuíam agrotóxicos proibidos ou em quantidades acima do permitido.
Em análise dos dados apresentados pela Anvisa, o Grupo de Trabalho de Agrotóxicos da Fiocruz alertou para a mistura de químicos em um único alimento. Em 34% dos alimentos, houve combinação de agrotóxicos. Foram identificados até 21 princípios ativos diferentes em alguns, sendo, o pimentão, o alimento mais contaminado: 95% das amostras possuíam mistura de substâncias.
Logo após ficaram a cenoura, com 73%, e o tomate, com 68% das amostras contaminadas com mais de um agrotóxico. O pesticida mais encontrado foi o imidacloprido, derivado da nicotina e fatal para as abelhas. O carbendazim, proibido na União Europeia e diversos países, foi o terceiro mais comum nas amostras.
O risco de misturar vários agrotóxicos é o chamado efeito coquetel, no qual a possibilidade de interação entre os produtos pode gerar efeitos desconhecidos.
Chega de veneno
Estima-se que, por ano, cada brasileiro consuma até sete litros de veneno escondido nos alimentos. Para fugir dos agrotóxicos, as alternativas são o consumo de alimentos orgânicos e a adoção práticas agroecológicas. Para aliar alimentação saudável à proteção ambiental, compre alimentos livres de veneno de pequenos produtores locais/familiares ou cultive sua própria horta orgânica em casa. Clique aqui para saber onde comprar e como produzir alimentos saudáveis!
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