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Brasil é líder mundial em perda de florestas tropicais primárias

Brasil é líder mundial em perda de florestas tropicais primárias
Desmatamento na floresta Amazônica subiu entre agosto e outubro de 2018/Crédito: Turismo Online/Flickr

As florestas tropicais do mundo perderam cerca de 12 milhões de hectares (ha) em 2018. Desse montante, 1,3 milhão pertencem ao Brasil, colocando o país no primeiro lugar do ranking de perda florestal. Os dados são do relatório do Global Forest Watch, sistema online de monitoramento florestal vinculado à Universidade de Maryland, nos Estados Unidos.

De acordo com a pesquisa, esta é a quarta maior perda anual desde o início dos registros, em 2001. A maior preocupação é com o desaparecimento de 3,6 milhões de hectares de florestas tropicais primárias, o equivalente a extensão territorial da Bélgica. São classificadas como primárias as florestas antigas que não tenham sofrido perturbações intensas, como grandes incêndios, caça e exploração madeireira excessivas.

Estes ecossistemas, quase intocados, são importantes refúgios para fauna e possuem maior capacidade de estocar carbono, fazendo com que sua proteção seja vital para mitigação das mudanças do clima. Suas árvores podem ter centenas ou até milhares de anos, mas depois de derrubadas, estas florestas podem nunca mais retornar ao seu estado original.

Em 2002, junto da Indonésia, o Brasil foi responsável por 71% de toda perda de floresta primária nos trópicos. Em 2018, o índice caiu para 46%. Segundo o relatório, apenas o Congo foi responsável pela perda de 481.248 hectares de floresta tropical primária no ano passado, ocupando a 2ª posição no ranking. A lista continua com Indonésia (339.888 ha); Colômbia (176.977 ha); Bolívia (154.488 ha); Malásia (144.571 ha); Peru (140.185 ha); Madagascar (94.785 ha); Papua Nova Guiné (77.266 ha); e Camarões (57.935 ha).

Maiores perdas

Em território brasileiro, os níveis de perda florestal continuaram altos no ano passado. Embora os números tenham caído em relação a 2016 e 2017 – período com maior incidência de incêndios florestais – a devastação superou os níveis de 2007 a 2015, quando o país tinha reduzido sua taxa de desmatamento em 70%. Os dados do Prodes, sistema de monitoramento da Amazônia brasileira por satélite, indicaram similar tendência de aumento, observada desde 2012.

Estima-se que uma parcela da destruição florestal no Brasil esteja relacionada aos incêndios florestais ocorridos em 2018, mas a maioria parece ter ligação com o corte de árvores na Amazônia, “colocando em risco os declínios de desmatamento que o país alcançou no início dos anos 2000”, indicou o Global Forest Watch.

Segundo informações do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o desmatamento na floresta Amazônica se intensificou entre agosto e outubro de 2018, em comparação ao mesmo período de 2017. Só nesses três meses, a floresta perdeu 1.674 km² de extenção, o que supera o tamanho do estado de São Paulo.

Em regiões sul-americanas, os níveis de perda de florestas seguem em ritmos alarmantes. Na Colômbia, a devastação florestal cresceu 9% entre 2017 e 2018, do mesmo modo que, em 2016, os níveis foram superiores aos outros anos. Apenas o desmatamento no Parque Nacional Tinigua foi responsável por acabar com 6% de toda cobertura florestal do país.

Na Bolívia, a conversão de florestas em áreas de cultivo e pastagens foi o que mais motivou a derrubada de árvores. Já no Peru, áreas remotas da Amazônia perderam espaço para a abertura de novas estradas de acesso em 2018. O corte contínuo de árvores para mineração ilegal de ouro foi outro fator que assolou as florestas primárias peruanas.

A pesquisa indica que a situação não se restringe à América do Sul, mostrando que novas fronteiras de perda florestal estão emergindo em partes da África. Gana e Costa do Marfim registraram o maior aumento percentual na perda de floresta primária entre 2017 e 2018 em comparação a qualquer país tropical – com 60 e 26% de devastação, respectivamente. A mineração ilegal e a expansão das fazendas de cacau são apontadas como as grandes vilãs da perda de biodiversidade nas regiões.

O Congo, segundo país que mais perdeu florestas primárias em 2018, apresentou índice de destruição florestal 38% maior no ano passado do que tinha sido de 2011 a 2017. Estima-se que três quartos da perda tenham sido causados pela agricultura em pequena escala e desmate para obtenção de lenha.

Madagascar é um dos últimos colocados no ranking de perda florestal, mas a devastação em seu território foi mais prejudicial do que em qualquer outro país. Isto por que perdeu 2% de sua floresta tropical primária em 2018, uma proporção mais alta do que qualquer outra nação dos trópicos.

“Embora a maior parte dessa perda tenha sido causada pelo corte e queima para agricultura, uma parte se deve à mineração ilegal de safiras perto da parte norte da área de proteção do Corredor Zahamena Ankeniheny, bem como à mineração legal de níquel na parte sul do Corredor”, apontou o estudo.

Ganhos

Apesar de a Indonésia estar em terceiro lugar no ranking, segue como destaque da redução massiva de perda florestal, sobretudo em áreas protegidas. No ano passado, os níveis foram os mais baixos desde 2003, em uma tendência de preservação observada desde 2017. Nas turfeiras (um tipo de solo) mais profundas, protegidas desde 2016, a perda de floresta caiu 80% em relação à média de 2002 a 2016.

Entretanto, a pesquisa destaca que as reduções não estão ligadas somente à implementação de políticas públicas. As chuvas mais intensas nos últimos dois anos inibiu a ocorrência de incêndios florestais, enquanto em 2015 só o fogo devastou 2,6 milhões de hectares. Neste ano a tendência é que a estação seca seja mais severa devido ao El Niño, aumentando a ocorrência de queimadas. Por isso, a luta contra o desmatamento deve continuar.

“Os dados revelam que, apesar do número crescente de compromissos com desmatamento zero de governos e empresas, a perda de floresta tropical primária alcançou recordes de alta em 2016 e 2017 devido a incêndios, permanecendo acima dos níveis históricos em 2018”, indicou o levantamento.

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