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Sobrepesca: 80% dos pescados no Brasil são explorados além de suas capacidades de recuperação
A sobrepesca e a falta de gestão pesqueira são apontadas como as principais causadoras das reduções de estoques de peixes e frutos do mar. Um levantamento realizado pela divisão brasileira do Fundo Mundial para a Natureza (WWF) indicou que cerca de 80% dos recursos pesqueiros no Brasil são explorados além de suas capacidades naturais de regeneração. Isto é, os animais são capturados em uma velocidade superior à que conseguem se reproduzir.
Inédito, o “Guia de Consumo Responsável de Pescado” contou com a colaboração de mais de 20 pesquisadores de todo o mundo. O grupo aponta que a falta de conhecimento dos consumidores e a escassa oferta de produtos certificados corroboram para o consumo insustentável dos pescados.
Os pesquisadores acreditam que a exploração desenfreada pode já ter comprometido severamente ou esgotado estoques de algumas espécies. Geralmente, variedades com maior valor comercial são exploradas até não serem mais rentáveis, sobrando poucos exemplares após a captura indiscriminada. Outro problema são as pescas ilegais, realizadas no período de defeso dos animais – época de reprodução em que a pesca é proibida.
A situação não se restringe ao Brasil. Aproximadamente 33% das populações pesqueiras mundiais estão superexploradas. Os países que mais contribuem para esse cenário são China, Indonésia, Estados Unidos, Rússia e Peru. Sardinhas, polaca do Alasca, anchoveta, bonito-listrado, cavala e arenque estão entre as variedades mais capturadas.
O levantamento alerta que as estatísticas de pesca podem ainda estar subestimadas. Isto por que as frotas industriais têm acessado regiões cada vez mais remotas e inexploradas, sendo difícil quantificar os animais capturados. Números mais recentes mostram que, de 2012 a 2016, pelo menos 55% dos oceanos foram utilizados para pesca.
Segundo a pesquisa, a falta de regulamentação do setor, somada à inexistência de monitoramento da atividade compromete a sustentabilidade da cadeia produtiva e qualidade do pescado. “Cientistas preveem que grandes estoques marinhos globais podem entrar em colapso nas próximas décadas, caso nenhuma ação seja tomada para reverter o cenário”, pontuou o estudo.
Guia de pescado
Para selecionar as espécies que devem ter seu consumo evitado, devido às reduções em seus estoques e impactos de sua captura sobre os ecossistemas, o WWF-Brasil avaliou 38 variedades de peixes, sendo 26 de pesca e 12 de aquicultura. Desse total, 58% (22) se enquadram na categoria vermelha, não sendo recomendadas para consumo. Isto por que são oriundas de pescarias ou fazendas de criação insustentáveis.
Camarão-rosa e tubarão-azul (cação) são algumas das variedades enquadradas na categoria vermelha. Eles e outras espécies inseridas no grupo estão ameaçadas por sobrepesca, são cultivadas ou retiradas de seu ambiente de forma ecologicamente incorreta ou ainda sofrem com má gestão pesqueira, por isso seu consumo não é aconselhável.
Tilápia e o bonito listrado estão entre as oito espécies (21%) inclusas na categoria amarela: podem ser consumidas, mas com moderação. Esta classificação indica que o aumento no consumo da espécie pode afetar sua sustentabilidade e causar impactos no meio ambiente por haver deficiência nos estoques naturais e problemas no método de pesca ou cultivo.
Na categoria verde foram incluídas mais oito espécies, como o salmão rosa. Estas têm o consumo seguro por serem provenientes de fontes bem geridas e serem capturadas ou cultivadas de acordo com métodos sustentáveis. Infelizmente, o Brasil não pesca espécies situadas na categoria verde, mas na aquicultura produz mexilhão, ostra do pacífico, ostra do mangue e vieira, presentes também na categoria “segura”.
De acordo com o guia, embora seja prudente evitar o consumo de pescados classificados na categoria vermelha, alguns produtores destas espécies possuem certificação de sustentabilidade, o que assegura o manejo pesqueiro respeitando regras internacionais.
Alternativas
A obtenção de peixes e frutos do mar acontece de duas formas: pesca comum, que retira o animal de seu habitat natural; e aquicultura, que é a produção de organismos aquáticos em confinamento. A segunda tem sido elencada como a mais sustentável por não esgotar os estoques naturais, mas é preciso haver uma gestão ambiental eficiente para a atividade não prejudicar o meio ambiente.
Um dos grandes desafios é controlar a introdução de espécies exóticas, que podem fugir dos nichos de criação; e nutrir os animais confinados com alimentos que não sejam provenientes das pescarias convencionais. A criação desses locais também não pode suprimir ecossistemas, a exemplo dos manguezais, como tem acontecido hoje, nem sobrecarregar recursos (água, energia etc.).
O crescimento do setor alerta para as práticas que devem ser adotadas conciliando produção e preservação ambiental. Enquanto a pesca global aumentou de 69 milhões de toneladas em 1981 para 91 milhões em 2016, a produção aquícola cresceu de 5 milhões de toneladas para aproximadamente 80 milhões no mesmo período.
“O Banco Mundial estima que a aquicultura deva representar 50% dos suprimentos globais de pescado em 2030 e dominar a maioria desse mercado a partir desta data”, indicou o guia.