Indústria têxtil consome 93 bilhões de metros cúbicos de água por ano
A produção de vestuário quase dobrou nos últimos 15 anos devido à popularização das fast fashions – em português, moda rápida – segundo levantamento da Fundação Ellen MacArthur. Essas empresas produzem em massa, por isso as roupas são mais baratas e também menos duráveis. Estima-se que mais da metade da moda rápida produzida é eliminada em menos de um ano.
De acordo com a ONG britânica, o sistema linear de produção utilizado pela indústria têxtil extrai 98 milhões de toneladas de recursos não renováreis. Desse montante, a maior parte é de petróleo. Ele é utilizado para gerar fibras sintéticas; e está presente em fertilizantes que fazem crescer o algodão e em produtos químicos que produzem, colorem e dão acabamento às fibras têxteis.
A produção colabora ainda para a escassez da água e emissão de gases poluentes. Mais de 1 bilhão de toneladas de CO2 equivalente foram liberadas em 2015 e 93 bilhões de metros cúbicos de água são gastos por ano pela indústria do vestuário.
Os recursos hídricos não são apenas desperdiçados, mas também poluídos. Em média, 20% da poluição industrial da água em todo o mundo provêm desse mercado. E não para por aí. O plástico, presente em alguns tecidos, tem invadido os mares, impactando a biodiversidade aquática.
“Estima-se que cerca de meio milhão de toneladas de microfibras de plástico são derramadas nos oceanos, anualmente, durante a lavagem de têxteis a base de plástico, como poliéster, nylon ou acrílico”, pontua o levantamento.
A pesquisa alerta também para o impacto econômico, visto que 100 milhões de dólares são perdidos por ano em matérias-primas porque menos de 1% do material utilizado é reciclado. Além disso, existem os valores consequentes do descarte. O Reino Unido gasta cerca de 82 milhões de libras esterlinas (US$108 milhões) em aterros sanitários para vestuário e têxteis domésticos a cada ano. São raros os países que atingiram altas taxas de recolha para reciclagem no segmento, como a Alemanha, que coleta 75% do vestuário.
Nos últimos 15 anos, o número de vezes que uma peça é usada antes de ser descartada diminuiu 36%; na China, a queda foi de 70%. No mundo todo, as pessoas perdem até 460 bilhões de dólares por ano jogando fora roupas que podiam ser usadas por mais sete ou dez anos. Cerca de 60% dos alemães e chineses já reconheceram que compram mais roupas do que precisam.
Segundo o estudo, a tendência é que os recursos naturais se esgotem aos poucos e a sociedade civil se revolte cada vez mais com essa produção exploratória (como já está acontecendo através dos boicotes às marcas que usam mão-de-obra escrava ou financiam maus tratos a animais), fazendo com que a indústria da moda fique à deriva.
Uma alternativa sugerida pelos pesquisadores é de que as empresas adotem sistemas produtivos circulares mais rentáveis. Isto é, produzir e reutilizar para diminuir os impactos ambientais e economizar na compra de novas matérias-primas. As principais mudanças que propõem é eliminar a liberação de microfibra no ambiente; produzir roupas mais duráveis; promover a reciclagem dos tecidos usados; e passar a utilizar insumos renováveis.
Mercado do couro
Outra vertente cruel da indústria da moda é a produção de peles e couros, na qual o Brasil é destaque. Segundo o Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil, o país movimentou US$ 149,3 milhões em exportações de couro e pele só em outubro do ano passado, à custa do sofrimento de centenas de animais. Para atingir o montante foram retirados 16,7 milhões de metros quadrados de pele e couro de vacas, cobras, jacarés, dentre outros.
Os principais compradores do Brasil são a China, que fica com 27% do couro brasileiro, Itália (18,4%) e EUA (15%). Em relação à origem do produto, os estados que mais produzem são Rio Grande do Sul, responsável por 19,3% das exportações nacionais; São Paulo com 18,7 %; e Goiás com 15,5%.
Todos os anos, a indústria mundial do couro mata mais de um bilhão de animais em nome da “moda”. Ao contrário do que se imagina, na maioria das vezes, o couro não é uma sobra do abate de bichos para consumo.
Na China, um dos países que mais exportam couro, não há leis que protejam animais que vivem em fazendas, por isso eles são submetidos a tratamentos hediondos. Além das vacas, são abatidos cães, gatos e ovelhas. Geralmente os produtores rotulam errado, intencionalmente, os produtos feitos a partir de animais domésticos para que as pessoas comprem sem saber a real procedência.
Alternativas
Atualmente existem no mercado diversas opções de ‘couro sintético’ em substituição ao de origem animal. A americana Modern Meadow é pioneira no desenvolvimento de tecidos ecológicos. Seu produto é feito a partir de uma proteína sintetizada em laboratório idêntica ao colágeno bovino, responsável por dar força e elasticidade à pele. Segundo a empresa, a alta tecnologia utilizada garante ao material conforto e durabilidade.
Os fabricantes também têm apostado em materiais naturais e que não explorem nenhum animal. Pensando nisso, o arquiteto Gianpiero Tessitore, em parceria com o químico Francesco Merlino, desenvolveu um couro de origem vegetal, feito a partir de resíduos da produção vinícola. A cada 10 litros de vinho é possível obter 2,5 kg de bagaço e, deste, é produzido um metro quadrado do tecido. O material também não utiliza substâncias químicas tóxicas, nem água. Sua durabilidade é garantida. A expectativa é que neste ano o couro feito de vinho já esteja disponível no mercado.
A Britânica Thamom London não ficou para trás e inovou com a produção de couro feito a partir de vegetais. As folhas utilizadas pela marca são provenientes do Reino Unido e Índia, sendo muito comuns na culinária. Para dar origem ao tecido, as plantas são secas, prensadas e revestidas com uma substância natural. Para os acessórios coloridos são utilizados corantes naturais. O processo de fabricação não utiliza sustâncias tóxicas.
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