Nosso planeta está pronto para 2 bilhões de carros?
Em 2010, a Terra atingiu o marco de 1 bilhão de carros. O índice diz respeito a veículos motorizados, como carros, caminhões, ônibus e motocicletas, excetuando-se veículos fora de estrada, como tratores e bulldozers. Até 2030, a projeção é de que teremos o dobro desse número – 2 bilhões de carros. O que isso significa para nosso planeta, nossa saúde, nossos estilos de vida e nosso meio ambiente?
Engarrafamento
O aumento exponencial de veículos está diretamente relacionado ao crescimento das megacidades em todo o mundo, especialmente nos países em desenvolvimento. Em 2030, a perspectiva é de que seremos 9 bilhões de pessoas. Desse montante, mais da metade viverá nas cidades.
Se você acha que os engarrafamentos são ruins agora, imagine como será com mais 2 bilhões de pessoas, cada vez mais amontoadas nas cidades e dirigindo mais 1 bilhão de veículos.
Com mais tráfego nas ruas, a quantidade de acidentes também aumentará. A Organização Mundial da Saúde estima que 1,25 milhões de pessoas morrem atualmente em acidentes envolvendo veículos a cada ano. Até 2030, a projeção é de que o número de mortes aumente para 1,8 milhão de pessoas por ano. Se a mortalidade relacionada ao veículo fosse considerada uma epidemia global, seria um assassino mais importante do que o HIV-AIDS.
Gases de efeito estufa
Na 21ª Conferência das Partes (COP-21), realizada em Paris em 2015, foi adotado um novo acordo para fortalecer a resposta global às mudanças climáticas. Os líderes comprometeram-se a limitar o aquecimento global a 2°C, com uma aspiração declarada de frear o aumento em 1,5°C. Mas é um pouco difícil imaginar como alcançaremos tal meta em um mundo com 2 bilhões de veículos que emitem diversos poluentes.
Nos Estados Unidos, o setor de transportes (que também inclui aviões, trens e navios) responde por 28% de todas as emissões de gases causadores do efeito estufa, ficando atrás somente da geração de energia (34%). À medida que os países em desenvolvimento expandem rapidamente seu uso de veículos motorizados, seus perfis de gases estufa se assemelham cada vez mais aos dos EUA.
Até recentemente os motores a diesel, que queimam combustível de forma mais eficiente do que os motores a gasolina, tiveram bastante incentivo em diversas nações. Contudo, entende-se agora que, a menos que operem em condições ideais, o diesel produz grandes quantidades de fuligem absorvente de calor e óxidos tóxicos de nitrogênio.
Doenças
Veículos motorizados são uma fonte maciça de poluição atmosférica urbana e, especialmente, de nanopartículas, associadas ao aumento das doenças autoimunes às cardiovasculares. Estudo realizado em 2014 pelo Massachusetts Institute of Technology concluiu que, nos EUA, as chances de um indivíduo morrer em função de poluentes relacionados à veículos é maior do que por acidentes de carro.
Estradas
Possivelmente, o pior impacto de todos esses veículos adicionais serão as novas estradas que eles exigem. Atualmente, está projetado que até 2050 o mundo terá mais 25 milhões de quilômetros de estradas pavimentadas, o suficiente para cercar o planeta mais de 600 vezes.
Novas estradas estão indo praticamente em todos os lugares, chegando inclusive a vários dos últimos refúgios florestais, abrindo brecha para a caixa de Pandora de doenças ambientais, que vão desde a caça da vida selvagem até a destruição da floresta elevada por incêndios florestais, desmatamentos, mineração ilegal e especulação de terras.
O que fazer
A the Alliance of Leading Environmental Researchers and Thinkers (ALERT) aponta três possíveis caminhos para reduzir os impactos ao planeta. Para a instituição, precisamos de carros menores e mais eficientes; evitar a construção de estradas em locais com alta biodiversidade e áreas protegidas; aumentar os impostos sobre o petróleo e adicionar sobretaxas para os veículos que gastam gasolina.
“A menos que comecemos a pensar muito, em breve viveremos em um mundo cada vez mais barulhento, poluído e privado de natureza, onde o barulho de 2 bilhões de carros parece muito mais uma maldição do que uma benção”, finaliza.
Com informações da the Alliance of Leading Environmental Researchers and Thinkers