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Lavar embalagens recicláveis é desperdício de água

Lavar embalagens recicláveis é desperdício de água
Trabalhadores separam lixo em cooperativa de reciclagem em São Paulo / Crédito: Hélvio Romero/Estadão Conteúdo

Você tem o hábito de lavar as embalagens dos produtos consumidos em casa antes de descartá-las na lata de lixo, com a boa intenção de viabilizar a reciclagem? Se respondeu afirmativamente, saiba que esta pode não ser uma atitude tão sustentável, afinal você está desperdiçando muita água potável e, de quebra, aumentando a quantidade de esgoto despejado nos sistemas de coletas da sua cidade.

Segundo Carlos Silva Filho, diretor presidente da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), “em qualquer processo de reciclagem o resíduo será submetido a um processo de higienização”, portanto “não há necessidade de uma lavagem aprofundada do material”.

A melhor maneira de preservar o lixo reciclável dentro de casa de maneira higiênica (sem uso de água), até que o caminhão passe para recolher, é guardá-lo em recipientes fechados, afim de evitar o surgimento de moscas e a emissão de odores.

Lixões

Apesar de a lavagem de material reciclável ser um desperdício de água, quando se trata do tratamento de resíduos sólidos esse problema ambiental ainda é pequeno em comparação com a existência de quase 3 mil lixões no Brasil. O país ainda recicla apenas 1,4% das 189 mil toneladas de lixo que gera por dia. De acordo com o governo federal, dos 5.564 municípios brasileiros, somente 766 fazem coleta seletiva.

Conforme dados do Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre), associação dedicada à promoção da gestão integrada do lixo, em 2012 a coleta, triagem e processamento de materiais em indústrias geraram faturamento de R$ 10 bilhões. Embora a reciclagem seja um mercado bilionário, o Brasil perde R$ 8 bilhões ao ano ao enterrar, em aterros e lixões, materiais que poderiam ser reciclados.

Mas esses números podem mudar com a implantação da nova Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), que elimina de vez todos os lixões e obriga as prefeituras a instalar aterros sanitários. A PNRS foi instituída em 2010 e tem previsão para entrar em vigor a partir de agosto deste ano. De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, os instrumentos da política ajudarão a alcançar o índice de 20% na reciclagem de resíduos já em 2015.

Mesmo com a PNRS entrando em vigor, o governo ainda precisará investir na educação da população para o tema da reciclagem. Segundo pesquisa desenvolvida pela Abrelpe com 2 mil pessoas, 88% dos entrevistados se disseram favoráveis e propensos em ajudar o meio ambiente por meio da separação de resíduos. Porém, todos alegaram que não receberam orientação de como fazê-la. “Falta orientação para esclarecer dúvidas básicas, como se eu preciso lavar o pote de margarina ou se posso jogar o papelão que veio a pizza, mesmo com gordura, para a reciclagem. Isso acaba prejudicando o sistema de coleta seletiva. O poder público tem que dar essa instrução”, explica o diretor da Abrelpe.

No Brasil, a implantação dos cestos coloridos foi uma tentativa de incentivar o hábito da reciclagem. O azul é para jogar o papel. No vermelho, vai o plástico. O verde é para o vidro e o amarelo é para o metal. No entanto, essa separação não funciona de fato, pois o lixo chegará na cooperativa e será misturado. “[Ter os cestos coloridos] é um gasto extra e um desestímulo à população, que quando vê esse monte de lixeiras coloridas, acaba misturando todo o lixo e colocando-o em um único cesto. Precisamos repensar essa medida”, afirma Silva Filho.

No Japão, por exemplo, há um calendário para recolhimento de cada material reciclável, algo que no Brasil estaria fora de cogitação devido ao custo elevado da coleta multifrações, como é conhecida a técnica, que custa de quatro a seis vezes mais que a coleta atual, quando o lixo é separado apenas em reciclável e orgânico.

Fontes: G1, Planeta Sustentável