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Agrotóxico reduz população de libélulas

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Agrotóxico reduz população de libélulas
Crédito: Ana Cotta/Flickr

Pesquisa do Instituto de Biociências (IB) da USP alerta que o uso de agrotóxicos na cultura da soja interfere na expansão da população de libélulas em áreas agrícolas no leste do estado de Mato Grosso. O pesquisador Daniel Din Betin Negri comparou o desempenho das larvas dos insetos e de girinos (anfíbios) que vivem em ambientes aquáticos em regiões agrícolas e em áreas preservadas de Cerrado. Entre as libélulas, houve coincidência entre os eventos de aplicação de pesticidas e o aumento das taxas de mortalidade das larvas.

O estudo verificou a hipótese do uso e manejo da terra para a produção intensiva de soja resultarem numa redução significativa no desempenho de organismos aquáticos, de acordo com as indicações de sobrevivência, crescimento ou desenvolvimento. “A área de estudo está situada na região das cabeceiras do rio Xingu, no leste de Mato Grosso. Trata-se de uma das mais ativas fronteiras de expansão agrícola do mundo, no chamado ‘arco do desmatamento’ da Amazônia”, aponta Negri.

As larvas de libélulas são muito utilizadas para determinar o estado de integridade do ambiente aquático, principalmente devido à sua maior sensibilidade às alterações. “Dentro da cadeia alimentar das poças temporárias, elas são predadoras de topo, que costumam ser os primeiros a serem afetados por processos de impacto ambiental, como a produção agrícola. Isso leva a um efeito cascata sobre a comunidade de seres vivos e a redução da riqueza de espécies, podendo prejudicar processos de controle biológico de pragas, menos dependentes de agrotóxicos”, explica o pesquisador.

O desempenho de larvas de libélulas foi significativamente influenciado pelo uso e manejo da terra. “A mortalidade de larvas transplantadas para ambientes de Cerrado e de pastagens variou entre 50% e 60%, enquanto as larvas em plantações de soja foram rapidamente erradicadas”, ressalta Negri. “A sincronia entre os eventos de aplicação de pesticidas e os padrões temporais de mortalidade sugere que os pesticidas são o principal vetor de alteração ambiental impedindo a colonização efetiva de campos agrícolas por libélulas”, pontua.

Para Negri, a única forma de criar um sistema agrícola mais permeável aos organismos é por meio da adoção de práticas menos danosas ao ambiente. “Essas práticas visam um uso mais racional e consciente dos agrotóxicos, uma vez que os dados experimentais obtidos no estudo sugerem que os organismos aquáticos são rapidamente erradicados da matriz após aplicação de agrotóxicos”, diz.

Além das mudanças no manejo, imprescindíveis para garantir a qualidade e a permeabilidade da matriz, o pesquisador salienta que também há necessidade da elaboração de um plano de longo prazo, focado na construção de uma paisagem com maior heterogeneidade. “Um ambiente heterogêneo é aquele que tem área para conservação e outra para a produção. Isso pode ser conseguido pelo ‘compartilhamento da terra’, adotando-se práticas agrícolas menos impactantes, ou por meio da ‘economia de terra’, que segrega áreas para conservação. Ambas permitem a formação de ambientes heterogêneos, mas resta discutir em que grau um ambiente é permeável para o movimento da fauna e a persistência dos organismos”, conclui.

Com informações da Agência Fapesp