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Pesquisa identifica lar de borboletas na Mata Atlântica

Pesquisa identifica lar de borboletas na Mata Atlântica
Hamadryas laodamia - Crédito: André Victor Lucci Freitas/Unicamp

Em estudo sobre a distribuição das borboletas frutíferas na Mata Atlântica, pesquisadores constataram que a Serra do Mar, Serra da Mantiqueira e Mata de Araucárias concentram umas das maiores taxas de biodiversidade do bioma. As descobertas indicaram que áreas de alta riqueza coincidem com a localização dos últimos remanescentes florestais contínuos da Mata Atlântica. Como indicadores biológicos, as borboletas são capazes de apontar a qualidade dos ambientes.

Para identificar as regiões do bioma com maior diversidade de insetos, os cientistas construíram mapas de riqueza com base em modelos climáticos e paisagísticos. Na modelagem do clima, a Serra do Mar e da Mantiqueira foram apontadas como as de maior diversidade, com até 162 espécies, enquanto a bacia do rio São Francisco foi considerada a zona de menor biodiversidade, com apenas 10 espécies de alimentação de frutas.

Na avaliação paisagística, destacaram-se pontos isolados na Bahia e a porção sul da Mata Atlântica, abrangendo o interior dos estados de Santa Catarina e Paraná, bem como a Mata de Araucárias. Estima-se que nestas regiões existam até 190 espécies de borboletas frutíferas. Por outro lado, zonas menos favorecidas, como a região centro-oeste, podem ter cerca de 20 espécies.

De acordo com o estudo, a perturbação humana faz com que locais propícios para ocorrência dos insetos tenham sua diversidade impactada. “Áreas com alta riqueza de acordo com modelos climáticos, mas baixa riqueza de acordo com modelos paisagísticos são encontradas principalmente adjacentes às áreas de alta riqueza previstas por ambos os modelos. Estas são provavelmente as áreas onde a riqueza de borboletas foi mais afetada pela modificação da paisagem e fragmentação da floresta. ”

Com o mapeamento dos insetos, os pesquisadores das universidades Estadual de Campinas (Unicamp), Estadual Paulista (Unesp) e Federal do Mato Grosso (UFMT), identificaram as áreas prioritárias para conservação. Assim, confirmaram que a perda do hábitat natural devido à modificação da paisagem é a principal ameaça à diversidade de borboletas.

A pesquisa constatou ainda que alguns hotspots de borboletas – centros com grande diversidade de espécies exclusivas – estão próximos a centros urbanos densos, onde o clima ou a paisagem já foram tão alterados a ponto de não suportarem mais a biodiversidade que existia no local.

Jessie Pereira dos Santos, coautor do estudo, cita a região sul do Brasil como exemplo. “Nela, temos altos valores de riqueza para a paisagem, entretanto o clima não é o mais adequado para o registro de valores altos de riqueza”, explicou. A presença de plantas para as lagartas se desenvolverem e baixos índices de poluição também são fatores determinantes para a vida das borboletas em um ambiente, além do clima e cobertura florestal.

Conservação

A bacia do Rio São Francisco, as áreas de transição com o Cerrado, bem como a divisa com o Paraguai e Argentina foram as zonas classificadas como as de menor diversidade de borboletas na Mata Atlântica. Por serem indicadores biológicos, a ausência desses insetos indica perturbação no ambiente. Para reverter esse cenário, os cientistas sugeriram a restauração dos serviços ecossistêmicos por meio do controle da erosão, regulagem do clima, melhora da qualidade do ar, entre outros serviços de recuperação da paisagem e restauração florestal.