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Aumento das emissões de CFCs colocam em risco a camada de ozônio

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Aumento das emissões de CFCs colocam em risco a camada de ozônio
Camada de ozônio vista do espaço. Crédito: NASA

A concentração de cinco gases clorofluorcarbonetos (CFCs), banidos há mais de uma década por causa da destruição da camada de ozônio, tem aumentado na atmosfera e preocupado cientistas. As emissões desses compostos voláteis estão em alta desde 2010 e bateram novo recorde no ano passado.

Em estudo publicado em abril na revista Nature Geoscience, cientistas explicam que apesar de as emissões atuais terem baixo impacto sobre a camada do ozônio, a concentração de CFCs pode atingir níveis prejudiciais e comprometer o progresso já alcançado com o Protocolo Montreal.

Assinado na década de 1980, o tratado uniu quase 200 países em um esforço global para eliminar gradualmente os produtos químicos destruidores de ozônio conhecidos como CFCs. No Brasil, esses potentes gases de efeito estufa são proibidos desde 1999. Desde o banimento, cerca de 99% dos CFCs foram eliminados da atmosfera terrestre.

O tratado foi essencial para a camada de ozônio, que cresce de 1 a 3% por década desde os anos 2000. A ONU anunciou no início deste ano que, se as políticas atuais de redução de CFCs continuarem, a camada de ozônio pode se recuperar completamente em quatro décadas e nos proteger dos efeitos nocivos dos raios ultravioletas. Segundo a organização, o protocolo já ajudou a evitar o aquecimento global em cerca de 0,5°C.

Impacto dos CFCs à camada de ozônio

Os CFCs são compostos químicos que contêm cloro e flúor ligados a cadeias carbônicas pequenas, como metano e etano. Eles fazem parte do grupo funcional dos haletos orgânicos e foram amplamente utilizados na fabricação de aerossóis, espumas, solventes e equipamentos de refrigeração.

No século passado, a camada de ozônio sofreu com o uso indiscriminado de produtos químicos do tipo CFC. Suas falhas foram anunciadas pela primeira vez por três cientistas do British Antarctic Survey, em 1985. No final da década de 1990, cerca de 10% da parte superior da camada estava deteriorada. Com a eliminação gradativa desses compostos, a ozonosfera foi se recuperando.

Em 2018, o buraco sobre o polo Sul chegou a medir 24,8 km², aproximadamente 16% menos do que o recorde de 29,6 km², de 2006. Ao redor dos polos, onde a camada está mais prejudicada, o buraco levará mais tempo para se fechar, aponta a Organização Meteorológica Mundial (OMM). O estimado é que o reestabelecimento ocorra por volta de 2045 no polo Norte e até 2066 na Antártida, no polo Sul.

O ozônio presente na atmosfera terrestre protege o planeta da radiação ultravioleta, que pode causar câncer de pele, enfraquecer o sistema imunológico humano e provocar danos à produção de alimentos, entre outros problemas.

Por que as emissões estão aumentando?

Os pesquisadores acreditam que as emissões de pelo menos três substâncias (CFC-113a, CFC-114a oCFC-115) estão ligadas ao vazamento na produção de hidrofluorocarbonetos (HFCs), produtos químicos que ironicamente são feitos para substituir os clorofluorcarbonetos, mas os utilizam em sua fabricação. Estima-se que só as emissões de CFC-113a cresceram 141% na última década.

“Esses gases foram banidos para o que chamamos de usos dispersivos, como em aerossóis, solventes e refrigeradores. Mas, sob o Protocolo de Montreal, o uso de CFC ainda é permitido como produto intermediário, ou seja, matéria-prima para produzir outros compostos e produtos químicos”, explicou o líder do estudo, Luke Western, da Universidade de Bristol, na Inglaterra.

Em 2020, as emissões combinadas dos cinco CFCs corresponderam a 4.200 toneladas de CFC-11, o segundo clorofluorocarbono mais abundante na atmosfera. O volume equivale a 47 milhões de toneladas de CO2, o principal gás causador do efeito estufa.

A boa notícia é que os HFCs também estão com seus dias contados. Um acordo adicional ao Protocolo de Montreal, conhecido como Emenda de Kigali, determinou a redução gradual da produção e consumo desses gases. O Brasil foi o 139º país na lista da ONU a ratificar a emenda, no ano passado. Para países em desenvolvimento, a meta é reduzi-los em 80% até 2045.

Embora não afetem a camada de ozônio como os clorofluorcarbonetos, os HFCs contribuem diretamente com as mudanças climáticas, podendo aquecer o planeta até 12 mil vezes mais do que o CO2. A ONU estima que a Emenda de Kigali evitará 0,3 a 0,5°C de aquecimento até o fim do século.