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Opinião

Relatório sobre o Estado dos Serviços Climáticos de 2020

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“Os chimpanzés, gorilas e orangotangos viveram milhares de anos em suas florestas, com vidas fantásticas, em entornos onde reina o equilíbrio, em espaços onde nunca lhes passou pela cabeça destruir a floresta, destruir o seu mundo. Eu diria que eles tiveram mais sucesso do que nós em relação a esta harmonia com o meio ambiente”. Jane Goodall (1934 – )

*Por José Eustáquio Diniz Alves

O aquecimento global é uma realidade cada vez mais inquestionável e que traz prejuízos cada vez mais significativos em termos de vidas humanas e perdas de ativos econômicos. O mês passado marcou o setembro mais quente da série histórica que começou a ser registrado em 1880, segundo o Instituto Goddard de Estudos Espaciais (GISS) da NASA.

Como resultado das mudanças climáticas, os eventos climáticos e meteorológicos extremos aumentaram em frequência, intensidade e gravidade como resultado do aquecimento global e atingiram comunidades vulneráveis ​​de forma desproporcional.

No entanto, uma em cada três pessoas ainda não está adequadamente coberta por sistemas de alerta precoce, de acordo com o relatório “Estado dos Serviços Climáticos de 2020” divulgado no Dia Internacional para Redução do Risco de Desastres em 13 de outubro.

O documento da Organização Meteorológica Mundial (WMO), mostra que nos últimos 50 anos, mais de 11.000 desastres foram atribuídos a riscos relacionados ao tempo, ao clima e à água, envolvendo 2 milhões de mortes e US$ 3,6 trilhões em perdas econômicas. Enquanto o número médio de mortes registradas para cada desastre caiu em um terço durante este período, o número de desastres registrados aumentou cinco vezes e as perdas econômicas aumentaram por um fator de sete.

Em 2018, globalmente, cerca de 108 milhões de pessoas precisaram da ajuda do sistema humanitário internacional em decorrência de tempestades, inundações, secas e incêndios florestais. Em 2030, estima-se que esse número possa aumentar em quase 50% a um custo de cerca de US $ 20 bilhões por ano.

O relatório, produzido por 16 agências internacionais e instituições financeiras, identifica onde e como os governos podem investir em sistemas eficazes de alerta precoce que fortaleçam a resiliência dos países a vários riscos relacionados ao clima, clima e água e fornece exemplos de sucesso.

Indubitavelmente, o aquecimento global é a maior ameaça existencial à humanidade e ao desenvolvimento civilizatório. Assim como existe uma emergência de saúde pública (por conta do novo coronavírus), existe também uma emergência climática por conta do aumento da temperatura global. O mundo precisa aprender com o trauma da covid-19 e acordar para a urgência de se resolver os problemas ambientais do século XXI. Senão teremos uma “Terra inabitável” como mostrou o jornalista David Wallace-Wells em um livro essencial para compreender os desafios atuais (Alves, 2019).

A questão ecológica na alta modernidade desafia as bases estruturantes da teoria social moderna e lança novos fatores de risco, como mostrou Ulrich Beck no livro Sociedade de Risco: “O que estava em jogo no velho conflito industrial do trabalho contra o capital eram positividades: lucros, prosperidade, bens de consumo. No novo conflito ecológico, por outro lado, o que está em jogo são negatividades: perdas, devastação, ameaças” (Beck, 1995, p.3).

O aumento das atividades antrópicas está provocando um “crescimento deseconômico” e o início de um colapso ambiental e civilizacional. O alerta foi disparado e falta o mundo acordar para os grandes desafios que tem pela frente.

José Eustáquio Diniz Alves é doutor em demografia

Fonte: EcoDebate