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Opinião

Ibama demora dez anos para avaliar e proibir uso do tiametoxam, agrotóxico letal às abelhas

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*Dalce Ricas

O Ibama, após 10 anos de análise, proibiu uso de aviões agrícolas e tratores para a aplicação do veneno tiametoxam, fabricado pela brasileira Ourofino e a Syngenta, mega empresa de origem suíça.

Diversas pesquisas relacionam o uso do tiametoxam com a mortandade em massa de abelhas. Seu uso foi proibido em 2018, pela União Europeia para proteger os insetos polinizadores, essenciais à manutenção de florestas, árvores frutíferas, flores, mas suas populações estão decaindo em todo o planeta por causa dos agrotóxicos.

A medida mantém a permissão de uso localizado no solo ou no tratamento de sementes para 25 culturas específicas, como abobrinha, café, cana-de-açúcar, melão, melancia, pepino, algodão, amendoim, arroz, cevada, feijão, girassol, milho, soja, sorgo, trigo e tomate, este último permitido na bandeja de mudas e esguicho. Nos plantios de batata, cebola, citrus, eucalipto, pastagens e uva fica proibido o uso, devido aos riscos ambientais identificados durante a reavaliação.

O tiametoxa é fabricado à base de nicotina, e atinge o sistema nervoso central das abelhas, fazendo com que elas percam o senso de direção, afetando seu sistema de aprendizagem, digestão e imunológico, em muitos casos levando-as à morte.

O defensor público do Estado de São Paulo, Marcelo Novaes, prevê intensa batalha judicial a ser travada pelos fabricantes para anular a decisão. Mas, para muitos, a decisão foi branda e o produto deve ser proibido no país.

A ação do Ibama, lamentavelmente pode ser uma das últimas, pois o Congresso aprovou lei que somente o Ministério da Agricultura decidirá sobre aprovação de pesticidas. Como ele sempre foi dominado pelo agronegócio, a aprovação sempre será dada.

O presidente Lula vetou o trecho que concede ao Mapa a palavra final, restituindo o poder do Ibama e da Anvisa. Mas a bancada ruralista diz ter os votos necessários para reverter o veto. Se derrubarem, o meio ambiente e a saúde pública serão considerados ainda mais secundários nos processos de análise e aprovação. Será o “melhor dos mundos” para o poder econômico.

*Dalce Ricas é superintendente executiva da Amda.