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Opinião

Discursos e fóruns não protegem a água

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*Dalce Ricas

Hoje é o Dia Mundial da Água e o Brasil sedia o Fórum de mesmo nome em Brasília, que fervilha de gente de todos os tipos e nacionalidades. O Fórum tem seu lado positivo: falar da água, sua preservação, lembrar que sem ela não há vida, conhecer e trocar propostas e experiências e iniciativas positivas. Hipócritas e oportunistas de plantão farão discursos inflamados, aproveitando o momento para se exibir como defensores convictos do meio ambiente. E os governos reafirmarão insistentemente sua preocupação com o assunto.

Mas a verdade é que o Brasil e seus entes federativos, Estados e municípios estão longe de terem políticas sérias de proteção dos recursos hídricos.

Cientistas alertam reiteradamente que a destruição da floresta amazônica alterará ainda mais o regime de chuvas em toda a América (incluindo Minas Gerais) e possivelmente no mundo. A principal fonte de emprego e renda na região é derrubar árvores e botar fogo. Inclusive nos veículos do Ibama.

O governo atual (e os que o antecederam) continua tentando acender vela para “Deus” preservar a floresta e o “Diabo” – agronegócio, madeireiras, Incra e seus assentamentos corruptos e degradadores. Mas a “vela de Deus” é muito menor e queima muito mais rápido do que a do “Diabo”, porque as políticas públicas que estimulam e apoiam a derrubada da floresta permanecem.

O Cadastro Ambiental Rural (CAR) e respectivo Programa de Recuperação Ambiental (PRA), previstos no Código Florestal Ruralista Brasileiro, que prevê cadastramento das propriedades rurais informando situação de nascentes e cursos d’água e sua recuperação através do PRA já foi adiado três vezes. A etapa de cadastramento deveria ter terminado em maio de 2014.

Sob ponto de vista técnico, proteger a água não é complicado. Depende de políticas agrícolas que levem em conta sua proteção e uso, mudanças no licenciamento ambiental, uso do solo e, é claro, paralisar o desmatamento agora e reflorestar áreas importantes para recuperação e proteção de aquíferos.

A longo prazo, destruir a Amazônia é mais grave do que a situação do Rio de Janeiro. As forças armadas que sustentamos com nossos impostos deveriam ser deslocadas também para protegê-la.

Quem tem ou teve poder neste país, não quer ou não teve coragem para enfrentar a situação. E no contexto político, que ainda parece ser de longo prazo, marcado pelo individualismo, mediocridade, ignorância, frivolidade, omissão e deseducação estarrecedora da maior parte da população que mantém as quadrilhas políticas que dominam o país, o cenário é muito ruim.

Mas os exércitos de Branca Leone que lutam e agem para defender o meio ambiente, mantêm viva a esperança de que alguma coisa restará para o futuro.

*Dalce Ricas é superintendente executiva da Amda