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Opinião

Minas está virando carvão e não há política de estado para mudar isto

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*Maria Dalce Ricas

Minas Gerais está literalmente “ardendo em chamas”. Agora, além de sermos campeões de derrubada da Mata Atlântica, estamos entre os Estados que mais queimam este bioma, o Cerrado e com eles milhares de animais silvestres. Os pássaros já estão nidificando e cada incêndio queima seus ninhos, ovos e filhotes.

99,9% dos incêndios são resultantes da ação humana. E desse percentual a maior parte são incendiários intencionais. Ontem (19.09), um piloto de aeronave que combatia o fogo que consome Mata Atlântica na área do Inhotim há sete dias, avistou um homem ateando fogo.

Na região denominada Vale do Córrego Fundo, em Brumadinho, marcada por pirambeiras que tornam o combate perigoso e sacrificante, há quatro dias do fogo é apagado e volta novamente.

Estabelecer ligação direta entre incendiários e incêndios é realmente muito difícil. Mas é preciso que haja investigação e presença constante da PMMA, como forma de intimidação. Para incendiários intencionais não há educação ambiental que resolva. E nos raros casos em que a responsabilidade foi apurada, a punição tem de ser severa a amplamente divulgada.

A Amda aguarda resposta da Semad quanto ao número e resultados de investigações sobre incêndios que foram feitas nos últimos dois anos. Queremos saber se elas estão sendo feitas.

No que se refere à prevenção, a ação do poder público tem sido também extremamente frágil. A gravidade dos danos à biodiversidade, à água, solo, paisagem, clima e saúde pública decorrentes dos incêndios deveria ser motivo de políticas públicas urgentes, envolvendo diversos órgãos da administração pública.

Fortalecer a intolerância social aos incêndios, informando com insistência a sociedade sobre seus danos, transformando incendiários em “inimigos públicos”, deveria estar no escopo de atuação do governo. Assim como a inserção do assunto no currículo escolar do ensino básico ao universitário.

A Seapa, através da Emater e do IMA é também fundamental porque muitos incêndios são provocados por proprietários rurais. DER idem, pois grande parte dos incêndios são ateados na beira das rodovias. Roçar o capim é imprescindível para dificultar a ação dos incendiários. Em algumas rodovias isto vem sendo feito, mas a faixa roçada é muito estreita.

O mesmo deveria ser feito pelas prefeituras nas estradas municipais, que com honrosas e raras exceções, simplesmente não se importam com o problema. Fortalecer o PrevIncêndio, que vem sendo enfraquecido, é também fundamental. A cada ano o Estado diminui o número de brigadistas nas unidades de conservação.

A prevenção porém deve ser o “carro-chefe” das políticas públicas se é que os “tomadores de decisão” conseguem pensar um pouquinho no futuro, além de seus interesses eleitoreiros e de sua estranha e obcecada paixão pelo poder.

*Maria Dalce Ricas é Superintendente Executiva da AMDA – Associação Mineira de Defesa do Ambiente.