Agrotóxico na água ameaça saúde da população

A água consumida pelos brasileiros pode não ser tão pura quanto imaginamos. Em 2022, testes de qualidade detectaram a combinação de 27 tipos de agrotóxicos na água disponível para consumo em 210 municípios. Em 28 localidades, as análises identificaram substâncias em níveis acima do limite permitido pelo Ministério da Saúde.

As informações foram coletadas pela Repórter Brasil a partir de dados disponíveis no Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Sisagua), que avalia a taxa de agrotóxicos presente na água ofertada nos estados brasileiros.

Os estados deveriam fornecer uma série de dados para a análise do órgão, mas nem todos cumprem com as exigências, revela o levantamento. Compondo a lista dos que enviaram poucas informações ao Sisagua, está o Mato Grosso, líder em compras de agrotóxicos no país. No estado, a exposição a pesticidas é quase 10 vezes maior que em São Paulo.

Os casos detectados não se restringem às redes de abastecimento convencionais. Na cidade de São Paulo, por exemplo, cinco tipos de agrotóxicos foram encontrados na água fornecida pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). Outras 27 substâncias foram detectadas em condomínios e empresas com sistemas particulares de tratamento de água da cidade.

Em Paulistas, município mineiro, quatro testes indicaram concentrações acima do permitido pelo Ministério da Saúde. Para o órgão, a presença das substâncias de forma isolada na água não é uma ameaça, mas o consumo frequente aumenta os riscos de doenças crônicas.

A maior preocupação é com a mistura de substâncias, que pode gerar o chamado “efeito coquetel”, quando a interação de um produto com o outro pode gerar consequências desconhecidas para o organismo humano.

Acima dos limites estabelecidos nos testes, um dos agrotóxicos identificados foi o Atrazina, proibido desde 2004 na União Europeia. O composto é liberado no Brasil, mesmo com evidências que o relacionam a disfunções hormonais. Ele ainda está na lista dos cinco mais usados no país.

Outros detectados em concentrações acima dos limites foram o Endrin e o Aldrin, dois agrotóxicos proibidos em território brasileiro. O primeiro concentrou o maior número de testes em níveis além do permitido em Goiás, Minas Gerais, Tocantins e São Paulo. A questão levanta preocupações sobre a entrada ilegal dessas substâncias no país e seus impactos sobre o meio ambiente e à saúde.

Rafael Rijo, coordenador de consumo sustentável do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), alerta que: “Tudo aquilo que vem sendo colocado no ecossistema, solos e plantações, permanece nos recursos naturais e continua presente em diferentes lugares.”

A contaminação geralmente acontece, pois as estações de tratamento não conseguem retirar os agrotóxicos da água na concentração utilizada no Brasil. O Ministério da Saúde reconheceu a insuficiência de analisar os agrotóxicos de forma individualizada para mapear os riscos à saúde da população.