Seca provoca baixa histórica em rios na Amazônia e Pantanal
Rios Negro e Paraguai atingiram a menor marca em mais de um século.
O rio Negro voltou a subir após quase 100 dias de vazante. Ele atingiu a menor marca em 122 anos, enquanto o rio Paraguai registrou o nível mais baixo em 124 anos, segundo o Serviço Geológico do Brasil (SGB). A seca provoca baixa histórica em rios na Amazônia e Pantanal. Além do Negro e do Paraguai, as bacias dos rios Amazonas, Acre, Madeira e Xingu estão em estado crítico.
O cenário atual confirma tendência observada desde o ano passado, quando o nível do rio Negro ficou abaixo de 13 metros pela primeira vez desde o início das medições, atingindo a cota mínima de 12,70 metros. Em 2024, a estiagem é mais intensa, com o nível do Negro chegando a 12,11 metros.
“A seca chegou mais cedo em várias regiões da Amazônia em 2024. Ela também está mais severa e mais extensa este ano. Importantes rios da região sequer tinham se recuperado da seca histórica do ano passado quando foram atingidos pela atual estiagem. De maneira geral, quase todas as bacias da Amazônia enfrentam recordes de estiagem em algum trecho”, afirmou Rômulo Batista, porta-voz do Greenpeace Brasil.
Os últimos anos na bacia do rio Amazonas foram de extremos, associados principalmente às mudanças climáticas. “Os anos de 2021 e 2022 foram marcados por grandes cheias, enquanto os de 2023 e 2024 foram de grandes secas. É um indicativo de que esses extremos estão se tornando mais frequentes”, ressaltou o coordenador nacional dos Sistemas de Alerta Hidrológico do SGB, Artur Matos.
Comunidades afetadas
De acordo com o governo federal, o país enfrenta a pior estiagem em 75 anos, o que causa a baixa histórica em rios na Amazônia e Pantanal. Cerca de 58% do território nacional é afetado pela seca. Na Amazônia, a estiagem é a mais severa em 45 anos. O Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) contabilizou mais de 500 mil pessoas impactadas pela seca no Amazonas.
Comunidades ribeirinhas enfrentam escassez de água potável e dificuldades de locomoção, já que a navegação nos rios está comprometida. Muitos municípios estão isolados e enfrentando problemas no acesso a alimentos e medicamentos.
Rio Paraguai atinge profundidade abaixo da cota zero
No Pantanal, a seca é a mais grave da história, segundo o Serviço Geológico do Brasil. Os efeitos refletem no baixo nível do rio Paraguai, que atingiu a cota de -67 centímetros na estação de referência em Ladário (MS).
Esse é o menor número desde o início das medições, em 1900. Outras réguas de medição ao longo do rio registraram níveis ainda mais baixos:
- Barra dos Bugres: -36cm
- Cáceres: -40cm
- Porto Murtinho: -60cm
- Porto Esperança: -146cm
- Porto Conceição: -164cm
- Pousada Taiamã: -192cm
- Forte Coimbra: -194cm
- Bela Vista do Norte: -227cm
Pesquisadores esperavam a baixa histórica, visto que, na última estação chuvosa, entre outubro de 2023 e setembro de 2024, choveu 395 milímetros a menos. Entre 2020 e 2024, o déficit pluviométrico ultrapassou 1.000 milímetros, o equivalente a um ano inteiro sem chover. Embora as chuvas já tenham chegado no Pantanal, especialistas esperam uma recuperação lenta dos níveis da bacia do Paraguai.
As consequências são devastadoras para a biodiversidade e as atividades econômicas, como turismo e pesca. Além disso, comunidades ribeirinhas enfrentam dificuldades para garantir suas atividades de subsistência e o abastecimento de água.