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Bancos financiam destruição da biodiversidade

Bancos brasileiros injetaram US$ 188 bilhões em setores de alto risco à biodiversidade desde 2016. Só em 2023, foram US$ 35 bilhões.

Bancos financiam destruição da biodiversidade

Relatórios da Coalizão Florestas e Finanças, divulgados às vésperas da Conferência das Nações Unidas sobre Biodiversidade (COP16), expõem o papel de instituições financeiras na destruição da biodiversidade. Apesar dos compromissos globais assumidos, grandes bancos continuam investindo nos setores que mais desmatam e violam os direitos humanos.

Mais da metade dos 30 maiores bancos do mundo com risco de desmatamento florestal são signatários de pelo menos uma iniciativa de sustentabilidade, revela a Coalizão. Entre elas estão a Aliança Bancária por Zero Emissões Líquidas (NZBA) e a Força-Tarefa sobre Divulgações Financeiras Relacionadas à Natureza (TNFD).

Os autores da pesquisa analisaram bancos e investidores de 300 empresas produtoras de carne bovina, óleo de palma, celulose e papel, borracha, soja e madeira, produzidas no Sudeste Asiático, América Latina, África Central e Ocidental. A produção dessas commodities está ligada a altos riscos de desmatamento, perda de biodiversidade e violações de direitos humanos.

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De acordo com as análises, os bancos direcionaram mais de 395 bilhões de dólares em crédito a esses setores desde o Acordo de Paris. Entre janeiro de 2023 e junho de 2024, o valor chegou a US$ 77 bilhões. Os investimentos aumentaram 7%, enquanto o crédito subiu para US$ 53 bilhões no ano passado, ante US$ 48 bilhões em 2022.

“A grande maioria dos créditos – 70% – vai para a América do Sul, com as indústrias da soja e da pecuária bovina recebendo a maior fatia. Esse financiamento alimenta diretamente a destruição da floresta amazônica, um dos ecossistemas mais importantes da Terra”, afirmou à Repórter Brasil, Merel van der Mark, coordenadora da Coalizão Florestas & Finanças.

Brasil é o maior financiador da destruição

O Brasil tem sido o epicentro do financiamento para setores que destroem a biodiversidade, ao passo que é responsável por 72% do crédito mundial para produção e processamento primário das commodities de alto risco. Logo atrás do país aparecem China, Indonésia, União Europeia e Estados Unidos.

Para Christian Poirier, diretor de Programas da Amazon Watch, os bancos brasileiros permitem que algumas das indústrias mais destrutivas operem em locais de grande biodiversidade. É por isso que “essas instituições precisam ser rigorosamente reguladas e responsabilizadas por ameaçarem nosso futuro coletivo”, defende. 

Entre 2016 e junho de 2024, os bancos brasileiros destinaram 188 bilhões de dólares a empresas de risco à biodiversidade. De janeiro de 2023 a junho deste ano, aos três maiores bancos do país (Banco do Brasil, Bradesco e Itaú Unibanco) forneceram US$ 35 bilhões. O valor foi principalmente para os setores da soja e carne bovina. Somente ao setor agrícola o aporte alcançou US$ 187 bilhões em julho de 2024.

A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) endureceu as regras para concessão de crédito a frigoríficos. Até dezembro de 2025, as empresas deverão instalar sistemas de rastreio e monitoramento para comprovar que não têm rastro de desmatamento ilegal. Mas, até agora, houve pouco resultado.

Sem mudanças regulatórias que imponham requisitos socioambientais mais rígidos e a responsabilização dos financiadores, o setor financeiro brasileiro continuará impulsionando a destruição das florestas e colocando em risco as metas de biodiversidade” ressaltou Tarcísio Feitosa, articulador da Coalizão Florestas e Finanças para o Brasil.