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Alertas de garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami caem 73%

Apesar da redução no número de alertas sete mil garimpeiros ainda ameaçam Terras Yanomami

Alertas de garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami caem 73%
Crédito: Marcela Bonfim/Amazônia Real)

Dados do Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam), apontaram queda nos alertas de garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami. Entre janeiro e abril do ano passado, 378 ocorrências de garimpo foram registradas no território. Já em 2024, esse número caiu para 102, uma redução de 73%.

O Censipam utiliza imagens de satélite para identificar, coletar e armazenar informações sobre as áreas afetadas pelo garimpo ilegal. Segundo as análises, abril registrou a menor incidência, com apenas 17 notificações. Apesar dessa diminuição, a presença de cerca de 7 mil garimpeiros no território Yanomami ainda preocupa os indígenas.

Assim como o Censipam, a Hutukara Associação Yanomami (HAY) e o Instituto Socioambiental (ISA) monitoram o garimpo na região. Através de um aplicativo de celular, a plataforma permite que os próprios indígenas façam denúncias de forma rápida e segura. Segundo o ISA, sete em cada dez notificações no aplicativo estão ligadas à ação de garimpeiros.

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“Ainda estamos sofrendo, os garimpeiros continuam em nossas terras e continuam passando com seus aviões na cabeça do nosso povo, incomodando o nascimento das nossas crianças com o barulho de motores. Mas com o sistema de alertas temos a oportunidade de comunicar às autoridades sobre o que acontece dentro do território”, declara o líder indígena e vice-presidente da HAY, Dário Kopenawa.
Impactos do garimpo

Embora o governo federal esteja atuando para expulsar os invasores e inviabilizar as ações dos garimpeiros, a atividade continua ameaçando a saúde e segurança dos indígenas. O garimpo fez multiplicar os casos de malária e outras doenças infectocontagiosas na terra indígena.

A ocupação do garimpo também é vetor de abusos e violações dos direitos humanos. Ao passo que a atividade destrói o território Yanomami, diminui a disponibilidade de terra fértil, pescado e alimentos para coleta. Isso faz com que os indígenas se tornem reféns das trocas desiguais com os garimpeiros.

Os danos ambientais, como desmatamento e contaminação de rios por mercúrio, são mais uma sequela do garimpo na Terra Indígena Yanomami. A recuperação dos estragos causados por anos de descaso pode levar entre 50 e 100 anos, acreditam lideranças indígenas

Garimpo explodiu nos governos Temer e Bolsonaro

Entre 2016 e 2022, o garimpo cresceu 361% em terras indígenas na Amazônia, segundo nota técnica do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam). Ao analisarem a atuação do garimpo ilegal na Amazônia ao longo de 37 anos, entre 1985 e 2022, os pesquisadores descobriram um boom da atividade durante os governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro.

De acordo com a análise, a maior parte (78%) da área invadida por garimpeiros em terras indígenas surgiu nesse período. Entre 1985 e 2022, a área garimpada aumentou 16 vezes em reservas indígenas, enquanto cresceu 12 vezes no restante da Amazônia.

De acordo com a análise, há mais de 80 mil pontos de garimpo na Amazônia em uma área de 241 mil hectares, o equivalente a duas vezes cidade do Rio de Janeiro. Desse total, 25 mil hectares estão em distribuídos em 17 terras indígenas.

A Terra Indígena Yanomami ficou entre as três reservas mais afetadas pela atividade, concentrando, ao lado das reservas Kayapó e Munduruku, 90% de todo o garimpo em territórios indígenas na Amazônia.