Eduardo Leite cria conselho para reconstrução do RS e exclui ONGs
O governador Eduardo Leite (PSDB) criou o Conselho do Plano Rio Grande – Programa de Reconstrução, Adaptação e Resiliência Climática do Rio Grande do Sul, com 178 integrantes, entre representantes do Poder Público, do setor privado e das vítimas da enchente, excluindo ONGs.
É consenso entre pesquisadores e ambientalistas que a tragédia tem como causa principal as alterações climáticas, que por sua vez são decorrentes da degradação promovida pela espécie humana. A incidência de chuvas torrenciais e concentradas em curtos períodos de tempo faz parte das previsões do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), organismo da ONU, formado por cientistas de dezenas de países.
Mas, Eduardo Leite, apontado como responsável pelo enfraquecimento das normas ambientais no Estado, parece não acreditar na ciência e muito menos na sociedade civil organizada para defesa do meio ambiente.
“Com esta atitude Eduardo Leite confirma as acusações das ONGs em relação à flexibilização de normas ambientais no RS. É uma postura preocupante porque remete à impressão de que ele vê a tragédia como algo pontual e a reconstrução poderá tomar características somente econômicas, desprezando necessidade de mudanças imediatas na política ambiental do Estado”, diz Dalce Ricas, superintendente da Amda.
Apenas quatro membros têm relação com o tema ambiental: os Conselhos Estaduais de Meio Ambiente, Saneamento, Recursos Hídricos, mas são instituições governamentais, que muitas vezes adotam posturas antiambientais.
Já a iniciativa privada foi beneficiada com cinco assentos: Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), Fecomércio, Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Fórum dos Conselhos Regionais de Desenvolvimento (Coredes RS) e a Organização das Cooperativas (Ocergs). O setor de comércio e serviços, e a construção civil ganharam quatro lugares, e as indústrias, além da Fiergs. mais três vagas. O setor de logística seis vagas e o agronegócio, além da Farsul, mais cinco. A academia, somente dois lugares.
A tragédia foi agravada pela ocupação humana de margens de rios e encostas e pelo processo de erosão superficial do solo nas bacias hidrográficas. No solo exposto pelo desmatamento e monoculturas que não pouparam nem mesmo as matas ciliares, as águas da chuva pouco se infiltram e escorrem para os cursos d´água, carregando sedimentos e entupindo seu leito. Ambientalistas e cientistas temem que a reconstrução mantenha ocupação das margens de rios e encostas e as grandes extensões de monoculturas mantenham-se insustentáveis.
Para eles, a reconstrução tem de partir do princípio da prevenção. Nesse cenário, a recomposição das matas ciliares para proteger os rios e auxiliar na infiltração das águas de chuva e contenção do assoreamento é fundamental.
A superintendente da Amda lembra ainda, que no aspecto ambiental a tragédia inclui a incomensurável quantidade de resíduos gerados pela destruição de imóveis, ruas, pontes, eletrodomésticos, veículos e outros. “Além da dificuldade de destinação desses resíduos, é preciso lembrar que com eles foram embora matérias primas utilizadas em sua produção, como plásticos, minérios, combustíveis fósseis, madeira e muitos outros, além de água e energia. E a reconstrução demandará novamente seu uso. A tragédia ambiental e social é muito maior do que se sabe”, diz Dalce.