Serra do Espinhaço ganha duas novas espécies de canela-de-ema
Uma expedição do Plano de Ação Territorial (PAT) Espinhaço Mineiro terminou com a descoberta de duas novas espécies de canela-de-ema na Serra do Espinhaço, no município de Monte Azul. A região é conhecida pelos campos rupestres com grande diversidade de espécies vegetais, especialmente da família Velloziaceae.
Os pesquisadores descreveram as espécies em um artigo publicado no revista científica Phytotaxa. A primeira delas, Vellozia flavida, possui flores amarelas, uma característica rara entre as 130 espécies do gênero, geralmente roxas ou brancas.
Já a segunda espécie, Vellozia formosa, possui pelos ao longo de suas folhas. O atribuito também é raro entre as variedades do gênero. Ela recebeu esse nome em homenagem ao Pico da Formosa, área onde ocorre. Com 1820 metros de altitude, o pico é o sexto mais alto do Brasil, por isso é um destino visado por praticantes de montanhismo.
De acordo com a pesquisadora Andressa Cabral, as espécies do gênero Vellozia possuem características fascinantes. Dessa forma, conseguem crescer em ambientes adversos, como solos rasos, altas temperaturas, insolação e escassez de água.
Importância de preservação
Renato Magri, pesquisador no Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP) e principal autor da pesquisa, iniciou o estudo com base nos trabalhos de Renato Mello-Silva. O professor, falecido em 2020, dedicou sua vida acadêmica ao estudo das canelas-de-ema.
Segundo os pesquisadores, a Serra do Espinhaço abriga uma grande diversidade de espécies, mas o difícil acesso pode dificultar novas descobertas.
“Eu sabia da existência dessas espécies novas na região, mas não sabia que o acesso seria tão difícil. A missão de coleta em campo para encontrar as plantas foi bastante pesada, por causa do relevo, bem como da necessidade de achar as plantas com flores”, conta Magri.
Vellozia flavida e Vellozia formosa são encontradas exclusivamente no Norte de Minas Gerais. Apesar da descoberta recente, já são consideradas criticamente ameaçadas por estarem restritas a uma pequena área.
“Isso destaca a importância de conservar esses habitats com uma flora tão singular, que é essencial para manter a biodiversidade e o equilíbrio ecológico desses ecossistemas”, ressalta Andressa.
Celeiro de descobertas
Os campos rupestres da Serra do Espinhaço são um paraíso intocado com rica biodiversidade, por isso cada vez mais pesquisadores desenvolvem estudos na região. No ano passado, expedições do PAT Espinhaço Mineiro resultaram na descoberta de uma variedade de planta aromática e uma espécie da família Oleaceae, a mesma da oliveira.
Elas receberam os nomes de Stachytarpheta meninii P.H.Cardoso e Chionanthus monteazulensis, respectivamente. Os pesquisadores encontraram a primeira no município de Serro, enquanto avistaram a segunda em Monte Azul, no Norte de Minas Gerais.
O território do PAT Espinhaço Mineiro abrange aproximadamente 677 km² dos biomas Caatinga, Cerrado e Mata Atlântica. Em Minas são cerca de 105 mil km², uma área marcada pela diversidade única de espécies de fauna e flora.