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Congresso centraliza controle de agrotóxicos no Ministério da Agricultura

Vetos ao Pacote do Veneno foram derrubados para atender aos interesses da bancada ruralista.

Congresso centraliza controle de agrotóxicos no Ministério da Agricultura

O Congresso Nacional rejeitou os vetos do presidente Lula ao Projeto de Lei (PL) 1.459/22. O PL é conhecido como Pacote do Veneno, visto que flexibiliza o uso de agrotóxicos na agricultura. A decisão reduz a influência da Anvisa e do Ibama na regulamentação dessas substâncias, concentrando o controle de agrotóxicos no Ministério da Agricultura.

Apesar de manter a competência dos órgãos de saúde e meio ambiente na condução das análises toxicológica e ecotoxicológica, a pasta de Agricultura é quem comandará o registro e a fiscalização dos agrotóxicos. Dessa forma, o modelo regulatório tripartite adotado em outros países deixa de existir no Brasil.

“Essa mudança é uma ameaça à saúde pública e ao meio ambiente, uma vez que retira o rigor técnico desses órgãos especializados na avaliação dos impactos ambientais e de saúde. O Brasil, já conhecido como o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, pode potencializar esse ranking a partir das consequências dessa flexibilização”, apontou a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, em nota.

O Congresso derrubou oito dos 17 vetos de Lula ao Pacote do Veneno, transformado na Lei 14.785/2023. A análise de mais nove vetos ficou para o dia 28/05. Os cortes incidiam sobre pontos considerados inconstitucionais por organizações como Fiocruz e Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco).

Foram mais de 400 votos pela rejeição e apenas 103 pela menutenção dos vetos. Veja aqui como votou cada parlamentar.

Retrocesso

Mais uma vez, os interesses da bancada ruralista sobressaíram sobre bem-estar da população. Enquanto o Sul do país sofre com um desastre climático sem precedentes, o Congresso passa a “boiada” sobre o meio ambiente em vez fortalecer a legislação ambiental.

A flexibilização dos agrotóxicos tramitou no Congresso por mais de 20 anos. A primeira proposta foi apresentada pelo então senador Blairo Maggi, em 1999. Em fevereiro de 2022, a Câmara aprovou o Pacote do Veneno contrariando especialistas e os inúmeros estudos que atestam os efeitos nocivos dos agrotóxicos.

No Senado, o texto sofreu algumas modificações, sendo fruto de consenso entre os parlamentares. A nova lei abre caminho para liberação de mais substâncias tóxicas e combinações químicas diferentes.

É o chamado efeito coquetel, no qual a possibilidade de interação entre as substâncias pode gerar efeitos desconhecidos pela ciência. O Brasil é o país que mais consome agrotóxicos no mundo e sua legislação é uma das mais brandas quanto ao uso de produtos químicos na agricultura.

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