Unidades de conservação no Brasil estocam 19 gigatoneladas de carbono

Responsáveis pela proteção da biodiversidade, as unidades de conservação também desempenham papel fundamental no equilíbrio climático. Estimativa feita pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) e O Eco apontou que essas áreas armazenam ao menos 19 gigatoneladas de carbono em sua vegetação.
O volume equivale a 28 anos de emissões nacionais de CO2, gás que mais contribui com o aquecimento do planeta. A análise mostra que a Amazônia, onde está o maior território protegido do Brasil, é o bioma que mais estoca carbono em suas áreas protegidas.
No total, as reservas amazônicas concentram 92% do carbono armazenado nas unidades de conservação brasileiras, o equivalente a cerca de mil vezes o volume estocado no Pampa, detentor do menor percentual de áreas protegidas do país. Na Amazônia, dez UCs abrigam os maiores estoques de CO2 de todo o território nacional.
Estoque de carbono por bioma em toneladas de CO2 por hectare (tCO2/ha):
1. Amazônia: 593,8 tCO2/ha
2. Mata Atlântica: 413,5 tCO2/ha
3. Cerrado: 178,8 tCO2/ha
4. Pantanal: 153,9 tCO2/ha
5. Pampa: 128,2 tCO2/ha
6. Caatinga: 83,6 tCO2/ha
Distribuídas em terras públicas e privadas, as UCs abrangem aproximadamente 18% do território do Brasil. Elas são regulamentadas pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), que define padrões e diretrizes para a criação e gestão das unidades de conservação.
A Amazônia é o bioma com maior percentual de área protegida (24,41%), seguida de Mata Atlântica (10,38%), Caatinga (9,16%), Cerrado (8,62%), Pantanal (4,68%) e Pampa (2,95%). A análise destaca a importância de expandir essas áreas, que desempenham importantes funções nas agendas do clima e de conservação da biodiversidade.
“É fundamental essa conversa entre as agendas climática e de biodiversidade no Brasil, onde as perdas de vegetação nativa são a maior fonte de emissões de gases-estufa”, destaca Ane Alencar, diretora de Ciência do Ipam e doutora em Recursos Florestais e Conservação pela Universidade da Flórida.
Unidades de conservação em risco
Desmatamento, incêndios florestais e propostas para diminuir e extinguir áreas são ameaças constantes às unidades de conservação brasileiras. Até outubro do ano passado, tramitavam 19 projetos de lei no Congresso visando a redução, recategorização e extinção de áreas protegidas, segundo análise da Rede Pró-UC.
Nos últimos anos, propostas como essas afetaram 110 mil quilômetros quadrados no Brasil, área maior que o estado de Pernambuco. A Estação Ecológica de Tamoios e os parques nacionais do Iguaçu, dos Campos Gerais, da Serra da Bodoquena e dos Lençóis Maranhenses são as reservas mais ameaçadas atualmente.
No Cerrado, processos que visam reduzir, diminuir o status de proteção até acabar com áreas protegidas, conhecidos pela sigla PADDD (Protected Areas Downsizing, Downgrading and Degazetting), afetam 34.529,93 km². Os dados são de levantamento do WWF-Brasil.
As principais causas dos processos no bioma foram assentamentos rurais e demanda por terra. Degradação, industrialização e mineração também aparecem como motivos. Algumas Ucs, como os parques nacionais do Araguaia, da Serra da Canastra e da Chapada dos Veadeiros, sofreram com diminuição e mudança de categoria mais de uma vez.
“A grande quantidade de carbono armazenada nessas áreas exige uma atenção redobrada diante de ameaças como incêndios, desmatamento e outras pressões sobre o sistema nacional de unidades de conservação”, ressaltou Alencar.