Pantanal pode sofrer com a estiagem mais grave em 5 anos
A maior área úmida continental do planeta está cada vez mais seca, revelou estudo inédito divulgado pelo WWF-Brasil. Sem a ocorrência de cheia neste ano, o Pantanal pode sofrer com a estiagem mais grave em 5 anos. As consequências são devastadoras para a biodiversidade, os recursos naturais e a população local.
Embora os quatro primeiros meses do ano sejam marcados pela cheia, que inunda a planície pantaneira, a média de área coberta por água entre janeiro e abril deste ano foi de 400 mil hectares, índice menor do que o registrado no último período seco. Desde 2019, o bioma enfrenta a pior estiagem das últimas quatro décadas.
Por isso, o Pantanal enfrenta incêndios acima da média. As autoridades já confirmaram que as queimadas têm origem humana, mas a seca favorece o cenário. Apenas na última semana, as queimadas destruíram mais de 61 mil hectares do bioma, o equivalente a duas vezes a cidade de Belo Horizonte.
A dinâmica das águas no Pantanal
O Pantanal é marcado por inundações periódicas, os chamados pulsos de inundação. A interação entre cheias e secas possibilitaram a seleção de espécies únicas, que dependem dessa dinâmica para sobreviver. É essencial que o Rio Paraguai esteja cheio para transbordar e represar as águas que chegam à planície.
“De forma geral, considera-se que há uma seca quando o nível do Rio Paraguai está abaixo de quatro metros. Em 2024, essa medida não passou de um metro. O nível do Rio Paraguai nos cinco primeiros meses deste ano esteve, em média, 68% abaixo da média esperada para o período”, afirma Helga Correa, especialista em conservação do WWF-Brasil.
Segundo os autores do estudo, a combinação entre secas extremas e escassez de cheias pode mudar permanentemente o ecossistema do Pantanal. Isso resultaria na perda de plantas e animais que só existem naquele local, além de impactar o modo de vida de povos tradicionais que dependem do bioma para sua subsistência.
Fatores como a construção de estradas e barragens, bem como desmatamento e incêndios, acentuados pela crise climática, aproximam o Pantanal de um ponto de não retorno. Ou seja, o bioma pode chegar a um estágio no qual os danos causados excederão sua capacidade de recuperação.
“As principais nascentes da bacia do Alto Rio Paraguai, que abastecem a planície pantaneira, estão situadas na área mais alta, no Cerrado. O que observamos no Pantanal este ano está muito conectado com impactos em toda essa região nas últimas décadas. As cabeceiras foram muito desmatadas e temos riscos de barramento dos rios. Esses eventos diminuem a capacidade do Pantanal de ter seus pulsos de inundação de forma natural”, explica Helga.
Recomendações
O estudo indica possíveis soluções para enfrentar a crise no Pantanal. Entre elas estão:
- Mapear as maiores ameaças aos corpos hídricos do Pantanal e o risco de fogo, principalmente em áreas prioritárias para conservação da biodiversidade. Além disso, apoiar sistemas de resposta rápida aos incêndios.
- Recuperar de Áreas de Preservação Permanente (APPs) para melhorar a infiltração da água, diminuir a erosão do solo e o assoreamento dos rios.
- Conscientizar a população sobre a importância do bioma para a conservação da biodiversidade, economia local e povos tradicionais.
- Definir ações de prevenção e adaptação a eventos climáticos extremos.