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Passa de 250 o número de botos mortos na Amazônia devido ao calor e seca

Passa de 250 o número de botos mortos na Amazônia devido ao calor e seca
Crédito: Miguel Monteiro/Instituto Mamirauá

A seca e o calor extremos tem sido uma combinação fatal para os botos na Amazônia. Nos lagos Tefé e Coari, mais de 250 botos-cor-de-rosa (Inia geoffrensis) e tucuxis (Sotalia fluviatilis) foram encontrados mortos. Os lagos do interior do Amazonas são afluentes do Solimões, um dos rios mais afetados pela estiagem.

A primeira onda de mortalidade aconteceu no Tefé. Entre setembro e outubro, 155 animais foram achados sem vida na região, o equivalente a 10% da população local de botos. Em 28 de setembro, quando foram documentadas 70 mortes na Enseada do Papucu, a temperatura das águas chegou a quase 40°C, cerca de 10°C acima do normal.

Outros fatores, como as intensas queimadas e a umidade do ar até 40% mais baixa, agravaram a situação. Agora é Coari, a 200 quilômetros de Tefé, a região que mais preocupa. Desde 22 de outubro, mais de 98 botos foram encontrados mortos no lago.

O monitoramento é conduzido por equipes do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM), WWF-Brasil, Sea Shepherd Brasil e instituições parceiras.

Em anos anteriores, os pesquisadores encontravam, em média, uma ou duas carcaças por mês. “É a primeira vez no mundo que o calor, a crise climática, mata mamíferos aquáticos dessa maneira. O que está acontecendo na Amazônia é equivalente ao que está ocorrendo no Ártico com morsas e ursos polares”, afirma Miriam Marmontel, do Instituto Mamirauá.

A pesquisadora, que estuda os botos amazônicos há 30 anos, explica que a situação pode piorar com a previsão de um El Niño ainda mais forte para o ano que vem. O fenômeno de aquecimento do Oceano Pacífico, aliado à crise do clima, tem sido associado a fenômenos climáticos extremos, como a seca história no Amazonas.

“Botos são perfeitamente adaptáveis ao movimento das águas na cheia, eles se deslocam com uma flexibilidade tremenda na floresta alagada para se alimentar. Mas para a seca eles não estão adaptados. Reverter esse cenário não depende de nós, pesquisadores, depende de toda a humanidade se mobilizar”, defendeu Miriam.

Resultado das análises

As equipes de monitoramento estão se desdobrando para salvar os botos sobreviventes e fazer análises nas carcaças encontradas. Mais de 120 animais passaram pelo processo de necropsia para identificar a causa das mortes.

Até o momento, os estudos não indicaram a relação de agentes infecciosos com a causa primária dos óbitos. Ao que tudo indica, o calor e a seca são os grandes responsáveis pela mortandade dos botos amazônicos.

A maioria das perdas é de botos-cor-de-rosa. Ele possui um sistema respiratório mais frágil, o que o coloca em situação de maior vulnerabilidade. Ameaçada de extinção, a espécie tem população com aproximadamente 900 indivíduos. Os tucuxis, também ameaçados, contam com apenas 500 exemplares.