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Sistema alimentar abrange 73% das emissões no Brasil

Sistema alimentar abrange 73% das emissões no Brasil

Em 2021, o sistema alimentar brasileiro emitiu 1,8 bilhão de toneladas de gases de efeito estufa (GEEs). O valor equivale a 73,7% das emissões brutas totais do país para aquele ano, que somaram 2,4 bilhões de toneladas. Somente a produção de carne foi responsável por cerca de 1,4 bilhão, aproximadamente 57% das emissões no Brasil em 2021.

Os dados são de estudo inédito conduzido pelo Observatório do Clima e organizações parceiras. O levantamento revela que, se a produção de carne no Brasil fosse considerada um país independente, o setor ocuparia uma posição à frente do Japão no ranking de emissões, ficando com a sétima colocação.

A pegada de carbono dos sistemas alimentares é uma preocupação global desde 2019, quando o Painel Científico da ONU para Mudanças Climáticas (IPCC) informou que a alimentação humana contribui com até 37% das emissões mundiais de gases de efeito estufa.

Em 2019, o Brasil era o terceiro maior emissor de GEEs, ficando atrás apenas da China e da Índia, e à frente dos Estados Unidos. Diferente destes países, que grande parte das emissões ocorrem na pré e pós produção de alimentos, no Brasil as emissões têm origem no desmatamento para conversão de florestas em pastagens.

Em 2021, cerca de 49% das emissões nacionais foram relacionadas à mudança de uso da terra, principalmente na Amazônia. Para os autores do estudo, os dados ressaltam a urgência e necessidade de ações para extinguir o desmatamento nos biomas e cadeias produtivas brasileiras.

“No momento em que os grandes planos de combate ao desmatamento, PPCDAm e PP Cerrado, foram restituídos e revisados pelo atual governo, torna-se fundamental acelerar a implementação, por exemplo, da rastreabilidade, conjuntamente com os planos de descarbonização da agropecuária”, afirmam.

Cadeia de emissões

As emissões dos sistemas alimentares, em especial o setor da carne bovina, começam com o desmatamento para abertura de pastagens e plantações. As emissões continuam com o uso de combustíveis fósseis em máquinas agrícolas e no transporte de alimentos, com o consumo de energia e com o processo digestivo do gado (o arroto do boi), que emite metano na atmosfera.

Os pesquisadores apontam a necessidade de políticas de incentivo a tecnologias de baixo carbono, assim como investimentos em recuperação e manejo de solo, com propostas de captura de carbono. Atualmente são cerca de 96 milhões de hectares de terras prejudicadas, emitindo carbono, com grande potencial de aumentar a captura.

Marcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima, ressalta que o relatório é um chamado à responsabilidade para representantes do agronegócio e do governo: “Ele demonstra, para além de qualquer dúvida, que está nas mãos do agronegócio o papel do Brasil como herói ou vilão do clima. Até aqui, o setor parece querer que o país encarne o vilão, tentando destruir a legislação sobre terras indígenas, legalizar a grilagem e acabar com o licenciamento ambiental, ao mesmo tempo em que manobra no Congresso para ficar totalmente livre de obrigações no mercado de carbono”, destaca.

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