Oxidegradável: o falso plástico ecológico vendido em supermercados
Em supermercados de todo o Brasil encontramos sacolas, talheres, pratos e copos plásticos vendidos como biodegradáveis. Estudo conduzido por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), mostra que muitos produtos comercializados com preços mais caros por serem “ecológicos” são, na verdade, tão prejudiciais ao meio ambiente quanto as opções convencionais.
Os autores do estudo avaliaram 40 estabelecimentos de diferentes cidades do Brasil, e concluíram que grande parte dos itens chamados de biodegradáveis são da classe dos oxidegradáveis, um falso plástico ecológico. Eles analisaram 49 tipos de produtos com rótulos que alegam biodegradabilidade.
Dos produtos analisados, 42,9% indicavam ser “100% ecológicos”, 20,4% eram chamados de “100% reciclável” e 8,2% eram descritos como “ecológico e biodegradável”. Entre os itens encontrados estavam copos (16,3%), talheres (22,5%), canudos (16,3%), pratos (24,5%), bandejas (6,1%), artigos de festas (4,1%), potes (4,1%), toalhas de mesa (2,0%), tampas (2,0%) e balões (2,0%).
Vendidos com preços em média 125% mais caros, nenhum dos itens atendia aos requisitos mínimos para serem classificados como biodegradáveis. Mais de 90% foram categorizados como oxidegradáveis, polímeros de origem fóssil com aditivos de sais metálicos.
Esses materiais não se degradam em condições ambientais normais, por isso permanecem na natureza por décadas. Os oxidegradáveis apenas se dividem em pedaços menores, que com o tempo dão origem aos microplásticos. Pela espessura ultrafina, essas partículas já foram encontradas até no pulmão humano.
A falta de evidências de biodegradabilidade em ambientes reais e o risco de formar microplásticos fazem com que os oxidegradáveis sejam proibidos na União Europeia e em outros lugares do mundo, mostra a pesquisa.
“Para ser considerado biodegradável, um produto, quando descartado no meio ambiente, deve-se converter em água [H2O], gás carbônico [CO2], metano [CH4] e biomassa em um intervalo de tempo relativamente curto. Não há consenso sobre que intervalo de tempo é esse. Mas a ideia geral é que varie de algumas semanas a um ano. Nenhum dos 49 itens que investigamos atendeu a esse requisito”, explicou o pesquisador Ítalo Castro, da Unifesp.
No Brasil, os oxidegradáveis ainda são permitidos. As normas técnicas ASTM D6954-4 ou SPCR 141 costumam ser usadas pelas empresas para indicar a biodegradabilidade de um produto. Entretanto, Castro alerta que essas normas são guias para comparar taxa de degradação e alterações de propriedades físicas em laboratórios, e não na natureza. Também há advertências para essas certificações não serem aplicadas em produtos plásticos comerciais.
A manobra se enquadra como greenwashing ou maquiagem verde, que ocorre quando fabricantes promovem um produto como ecológico para mascarar seus impactos negativos à natureza. Dessa forma, os consumidores acreditam estarem fazendo boas escolhas para o planeta, quando, na verdade, estão prejudicando-o ainda mais.
Mudanças na legislação
Ainda não há leis para coibir o comércio dos oxidegradáveis, mas tramita no Senado o Projeto de Lei 2.524/22, que veda o uso de aditivos oxidegradantes, embalagens e produtos feitos de oxidegradáveis. A proposta estabelece regras relativas à economia circular do plástico.
Para Ítalo Castro, a aprovação do projeto é urgente. O pesquisador explica que o Instituto do Mar, localizado em Santos, detectou microplásticos acumulados até em animais filtradores de água do mar, como ostras e mexilhões. “Os valores detectados estão entre os maiores do mundo quando comparados a outros 40 estudos semelhantes”, informou.
O Ministério do Meio Ambiente se posicionou favorável ao PL 2524/22: “O ministério é favorável à proibição de aditivos oxidegradantes/pró-oxidantes, baseando-se em estudos que comprovam a geração de microplásticos na fragmentação de plásticos com tais aditivos – o que causa dano ambiental, particularmente para ambientes marítimos” declarou em nota.
Com informações de Agência Fapesp.