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Conheça um “mecenas ambiental”, esperança de sobrevivência do muriqui do Norte

Conheça um “mecenas ambiental”, esperança de sobrevivência do muriqui do Norte
Crédito: Luiz Gustavo Vieira

A palavra “mecenas” deriva do nome de Caio Mecenas, conselheiro do Imperador romano Augusto, que sustentava intelectuais e poetas. O termo pode ser aplicado também na área ambiental, com um ilustre exemplo: Renato Machado, ambientalista, empresário e um real mecenas. Adquiriu nada menos que 6.000 ha de terras limítrofes ao parque estadual do Ibitipoca, em Lima Duarte/MG, cuja maior parte é destinada à recuperação da Mata Atlântica. O parque tem apenas 1.490 ha, mas “ganhou” esta grande área que o capacita para exercer seu principal papel: proteger a biodiversidade animal e vegetal.

Mas Renato não ficou só nisto. Tendo como aliado Fabiano Melo, professor da UFV e ambientalista, há anos empenhado em salvar o muriqui (conhecido como mono-carvoeiro) da extinção), patrocina projeto nesse sentido. Em sua propriedade, Renato telou e estruturou seis ha de terra, que hoje abrigam oito animais. O objetivo é reprodução e reintrodução da espécie na natureza.

A primeira moradora do projeto, foi a Ecológica. Logo após, chegaram dois machos, os irmãos Bertolino e Luna, e mais uma fêmea, apelidada de Socorro, que foram soltos na área telada.

Num viveiro, estão dois simpáticos, inquietos e belos filhotes, que estão sendo adaptados para se juntarem aos seis que vivem na área telada. A bióloga, Fernanda Tabacow, que nos recebeu, conta que a filhote, trazida do Projeto Muriqui de Caratinga (liderado pela americana Karen Strier) foi encontrada no chão, ainda com a placenta e cordão umbilical. A equipe conseguiu salvá-lo e gerou conhecimentos médicos que certamente serão valiosos na luta para salvar a espécie.

No bando que vive dentro da área telada, um jovem muriqui foi encontrado e dado como morto, por desnutrição. “Ficamos desesperados, mas de repente, alguém notou que ele respirava e foi uma correria. A alegria foi enorme quando vimos que ele sobreviveria”, conta Fernanda.

Talvez agradecidos pela oportunidade de vida que tiveram, os habitantes muriquis nos receberam muito bem. Guardando distância necessária deles, para que não se acostumem demais à presença humana e esqueçam como é sobreviver sozinhos, pudemos assistir suas incríveis acrobacias nas árvores e o carinho impressionante que mantém entre si.

Parece simples. Mas não é. Procedimentos complexos, que exigem conhecimento técnico; infraestrutura: instalações, equipamentos, vigilância e corpo técnico, demandam custos consideráveis.

A reprodução em cativeiro (no caso, dentro da área telada), desafio enorme para aumento da baixa população que sobrevive em liberdade, também avançou: um lindo e sadio filhote nasceu e integra o bando, aumentando a esperança de que Renato, Fabiano, Fernanda e Raquel Pazos (Ibiti Projeto) e todos que integram a equipe técnica, consigam salvar esta espécie em estado crítico de extinção pelo desmatamento e caça, promovidos pelos seres “humanos”.

Muriqui ou Mono Carvoeiro

O nome Mono Carvoeiro deve-se à face escura do muriqui, rodeado por pelagem branca, como se estivesse sujo de carvão. Ele é o maior primata das Américas, e só vive na Mata Atlântica, que como ele encontra-se ameaçada de extinção. São duas espécies: o muriqui do Norte que ocorre no Sul da Bahia, ES, Minas Gerais e norte do RJ. Estima-se que toda sua população não passe de 1000 indivíduos. O muriqui do Sul é habitante original das florestas no extremo sul de MG, RJ, SP e Paraná. Em 2016, ambos foram incluídos na lista dos 25 primatas mais ameaçados de extinção do mundo.

Além da desenfreada destruição das matas onde vivem, seu lento ritmo de reprodução é fator de declínio dos grupos que ainda sobrevivem na natureza. Em Minas, até o momento, a presença do muriqui foi detectada nos parques estaduais do Brigadeiro, Papagaio, Rio Doce e Alto Cariri, na Rebio Federal Mata Escura, Parna Caparaó, e nas RPPNs Feliciano Abdalla e Mata do Sossego. Além disso, a espécie foi vista numa propriedade particular em Peçanha.

Os muriquis podem dispersar, em um único dia, sementes de até oito espécies de plantas, E por isso são considerados um dos maiores dispersores e restauradores da Mata Atlântica. O bioma possui, hoje, apenas 12% de sua cobertura original, muito fragmentado.

Por se tratar de um primata de grande porte, possui vocalização singular e de longo alcance. Apesar da facilidade de identificá-lo pelo som que emite, suas populações são escassas e vivem em áreas montanhosas, de difícil acesso, sendo raras as chances de se deparar com um muriqui.

Maria Dalce Ricas – Superintendente da Amda

*Matéria escrita com colaboração de Fabiano Melo, biólogo, professor da UFV, fundador do Instituto Muriqui.