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Calor pode ter matado mais de 100 botos na Amazônia

Calor pode ter matado mais de 100 botos na Amazônia
Crédito: Miguel Monteiro (IDSM)

A seca e as altas temperaturas registradas no país nas últimas semanas estão afetando até os botos na Amazônia. Somente entre os dias 24 de setembro e 2 de outubro, 110 botos-cor-de-rosa (Inia geoffrensis) e tucuxis (Sotalia fluviatilis) foram encontrados mortos pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, organização vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.

O número de animais mortos corresponde a aproximadamente 5% da população de botos amazônicos da região de Tefé, no Médio Solimões. Cerca de 80% dos óbitos foram de botos-cor-de-rosa, espécie ameaçada de extinção com população em torno de 900 indivíduos. Os tucuxis, também ameaçados, tem apenas 500 exemplares.

A pesquisadora do Instituto Mamirauá Miriam Marmontel, que estuda botos amazônicos há 30 anos, explica que a causa das mortes não foi confirmada, mas a suspeita é que esteja ligada às altas temperaturas das águas.

“A minha impressão é que tem algo na água, obviamente, relacionado à situação de seca extrema, baixa profundidade dos rios e, consequentemente, ao aquecimento das águas. A média histórica da temperatura da água no Lago do Tefé é de 32 graus e, na quinta-feira, nós aferimos 40 graus até três metros de profundidade”, afirmou Miriam.

Em 29 de setembro, um dia após os pesquisadores registrarem 40°C nas águas do Tefé, 70 animais foram encontrados mortos. Os botos com vida são resgatados por um barco flutuante com piscina, onde animais permanecem até os pesquisadores concluírem as análises.

“Se for um agente infeccioso, seria muito arriscado liberar os animais para o rio Solimões, pois terminaria infectando o resto da população. Aparentemente, isso é um evento isolado no Lago Tefé, e não há registro de algo semelhante acontecendo nas cidades do entorno”, esclareceu a pesquisadora.

Além dos impactos à biodiversidade, a seca extrema, que diminui o nível da água no Lago Tefé, tem impactado o cotidiano da população. Há registros de escolas sendo fechadas, linhas de barcos deixando de funcionar, morte de pescados e aumento no preço dos produtos.

Treze municípios amazônicos já decretaram situação de emergência por causa da estiagem. Outras 40 cidades estão em estado de alerta.